quarta-feira, 21 de março de 2012

Director da DNIC garante devolução dos computadores do Folha 8

O Director Nacional de Investigação Criminal (DNIC), comissário Eugénio Alexandre, revelou ao Tribuna da Kianda que os meios do bissemanário Folha 8 só foram apreendidos para consolidar algumas provas de um processo-crime que está a correr os seus trâmites legais naquela unidade. “Os computadores só foram apreendidos por este motivo, mas vão ser devolvidos tão logo sejam concluídas as investigações, por não ser do nosso interesse prejudicar o funcionamento daquela publicação”, explicou.
Eugénio Alexandre disse ainda ser de suma importância informar à sociedade que os meios não foram retidos pela Polícia, mas sim pelo Ministério Público. Por isso é que esteve presente o seu representante junto da DNIC.
Por outro lado, o comissário que se encontra no exterior do país em missão de serviço, declarou que uma “apreensão deste género é um acto normal que acontece em qualquer parte do mundo, quando se está diante de um processo-crime desta natureza.
Apesar de os meios informáticos terem sido apreendidos, o jornal saiu à rua na manhã de sábado como garantiu o seu o editor chefe, Fernando Baxi na Quinta-feira, 15.
Para colmatar a ausência destes equipamentos informáticos e assegurar o normal funcionamento do jornal, a direcção comprou alguns computadores e solicitou outros por empréstimo. As afirmações de Baxi foram feitas no momento em que a sua redacção fechava a edição que chegará amanhã às mãos dos seus habituais leitores.
Os computadores foram retirados na manhã de Segunda-feira, 12, por cerca de 15 efectivos da Polícia Nacional que se faziam acompanhar de uma mandado de busca e apreensão emitido pelo representante da Procuradoria Geral da República junto da DNIC, João Vemba Coca, datado 26 de Janeiro de 2012.
A apreensão dos equipamentos está relacionada com as investigações que o Ministério Público está a realizar desde Dezembro do ano passado, sobre a publicação de uma fotomontagem satírica veiculada na internet, na qual aparecem o Presidente José Eduardo dos Santos, o vice-presidente Fernando da Piedade Dias dos Santos e o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar da Presidência da República, general Hélder Vieira Dias.
Esta explicação foi avançada pelo director do Folha 8, William Tonet, em entrevista à agência de portuguesa de notícias, Lusa. Em função do sucedido, várias foram as vozes que se levantaram a favor dos jornalistas. Numa nota enviada a nossa redacção, o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) condenou a incursão policial, baseando-se numa cópia do mandado que solicitava a apreensão de todos os computadores e ferramentas usadas para cometer “actos que constituem um crime de ultraje contra o Estado, a pessoa do Presidente, e órgãos do executivo”.
“A apreensão dos computadores do Folha 8 é um simples acto de censura, direccionado a silenciar um dos poucos meios de comunicação independentes remanescentes em Angola”, disse o coordenador de defesa dos jornalistas africanos do CPJ, Mohamed Keita.
Explicando de seguida que “a sátira não é um ultraje contra o Estado é uma parte importante do vigoroso debate numa sociedade livre.
Pedimos às autoridades angolanas que devolvam de vez os computadores ao Folha 8 e interrompam este inquérito politicamente motivado”.
Por seu turno, o jurista e líder da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), António Ventura, considera que a apreensão dos instrumentos de trabalho do semanário “Folha 8” tem de estar dentro das competências atribuídas ao Ministério Publico e deve ser baseada numa queixa apresentada pelas entidades lesadas na publicação da fotomontagem por aquele jornal no ano passado.
O jurista afirmou também, à Voz da América, que só devem ser apreendidos meios considerados como objecto crime.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma “chicotada” ao Ernesto Bartolomeu e TPA

No dicionário de língua portuguesa chicotada é substantivo feminino de pancada com chicote. Neste caso, a chicotada que o administrador da TPA para a área de Informação, Ernesto Bartolomeu (na imagem), apanhou não foi física, mas por via da tarimba de um dos escribas do Novo Jornal.
Apesar de não ser novidade para ninguém o facto do pivot do principal serviço informativo da Televisão Publica de Angola, estar neste momento a “travar” com a elaboração da sua monografia de fim de curso, que o habilitará a receber o diploma de licenciado em comunicação social pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto. O autor do texto achou por bem dar-lhe uma pequena “aula de refrescamento” sobre o que é o jornalismo, antes da “surra”, de uma forma pedagógica. Eis o texto:
O jornalismo é uma profissão que merece ser tratada com dignidade, nobreza e que apenas compactua com a verdade e não com a manipulação. O jornalismo deve ser feito com elevação e não com militantismo. Só isso revela bem a atitude que a TPA , cuja área de informação é agora liderada pelo pivot ERNESTO BARTOLOMEU, uma antítese de si mesmo, porque sempre criticou a actuação dos anteriores directores e está a agora a fazer igual ou pior, ao promover um pseudo senhor “Vento”. Dar propaganda a malfeitores é coisa que nunca vimos. Não noticiar os factos é contra o jornalismo, ainda mais quando se trate de violação aos direitos humanos e constitucionais.





Deserção em massa na UNITA


Colectiva, da direita para a esquerda, Leonel Gomes, Odeth Ludovina, Carlos Morgado, Jaime Xavier e Joaquim Muafumba.

Apesar de o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, terem se recusado a assumir publicamente que a saída de Abel Chivucuvuco daquela formação política “arrastaria” poderá contribuir para o seu fracasso nas próximas eleições, a realidade está a mostrar o contrário. Como prova disso, o Tribuna da Kianda publica na íntegra a declaração e fotografias de um grupo militantes que decidiu trocar o Galo Negro pela Convergência Ampla para a Salvação de Angola (CASA), partido de Abel Chivucuvuco.


DECLARAÇÃO

Foi o sentimento do dever para com a nossa querida Pátria, Angola, que impeliu muitos de nós a abraçar a luta anticolonial. O mesmo sentimento impeliu-nos posteriormente a participar da luta pela Democracia empreendida pela UNITA e pelo Dr. Jonas Malheiro Savimbi depois de instituído o Estado Totalitário em 1975.

Foi em nome da luta pela instauração do Estado plural na nossa Terra, que dedicamos toda a nossa energia e juventude, com vista à instauração do Estado Democrático de Direito em Angola, luta na qual vimos partir milhares de companheiros, irmãos e amigos (insignes filhos desta Pátria querida), para que pudéssemos ser os sobreviventes da nobre causa de realizar Angola e os angolanos. Nessa luta caminhamos com a certeza de um porvir melhor, imbuídos da doutrina segundo a qual, 1º o Angolano, 2º o Angolano, 3º o Angolano… o Angolano sempre!

Foi em nome da edificação de um verdadeiro Estado Democrático de Direito que outros tantos de entre nós abraçaram a causa da UNITA a partir de 1991.

Acreditávamos então que, mau grado a morte do líder fundador, o calar das armas pudesse criar um quadro, onde as sinergias dos dirigentes dessa que já foi uma grande organização política, fossem utilizadas para a satisfação das mais ingentes necessidades da população, tais como a liberdade arrancada com suor sangue e lágrimas ao jugo colonial Português, mas ainda adiada desde a proclamação da independência.
Foi pela construção de um Estado plural que todos nós continuamos a militar na UNITA, em busca, da sua transformação numa oposição forte e actuante, enquanto entidade indispensável para o exercício da Democracia num Estado de Direito. (Momento da leitura da declaração de cessação de militância, por Odeth Ludovina, antiga presidente da LIMA, braço femenino da UNITA).

Tendo constatado um adiar permanente desse nobre desiderato, nós, os abaixo assinados vimos anunciar aos Angolanos e ao Mundo, a cessação da nossa militância à UNITA a partir de hoje, dia 15 de Março de 2012.

Ao mesmo tempo, respondendo à nossa vocação política, propomo-nos a prosseguir os nobres ideais da Democracia, da Justiça Social, da Valorização e Dignificação de Angola e dos angolanos, através do nosso engajamento total na CASA – Convergência Ampla para a Salvação de Angola que auguramos venha a ser a nossa CASA comum, onde todos e cada um se sintam verdadeiramente realizados, porque partícipes e construtores desta nova Angola que todos desejamos.

Nosso apelo vai a todas as mulheres e homens de boa vontade, à juventude força motriz do nosso país, aos desmobilizados e antigos combatentes e veteranos da Pátria pelo seu inegável e insubstituível papel na luta pela liberdade e independência de Angola, aos empresários, aos funcionários públicos, às zungueiras, às kinguilas, aos desempregados, aos excluídos, enfim, convidamos todas as foças vivas da nação a entrar na “CASA” – a nossa casa Comum, num amplo movimento de cidadania activo e inclusivo para melhor servimos Angola, na busca da plena realização das angolanas e angolanos.
Esta é a hora!
A hora é nossa!
Mãos à obra, para dizer basta!
Que Deus nos abençoe e abençoe a nossa Pátria!










quarta-feira, 14 de março de 2012

MPLA e UNITA negociam permanência de Suzana Inglês na CNE

O MPLA e a UNITA, o maior partido da oposição em Angola, estão a negociar a permanência de Suzana Inglês no cargo de presidente da Comissão Nacional Eleitoral. De acordo com informações divulgadas pelo semanário Novo Jornal, o processo está a ser conduzido pelos generais Higino Carneiro e Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e o jurista Carlos Feijó, em representação do partido no pode, enquanto o Galo Negro teria indicado o engenheiro Adalberto Costa Júnior, o deputado Raúl Danda, o jurista Cláudio
Silva e o brigadeiro Horácio Junjuvile.
O analista Ismael Mateus havia avançado na semana passada na sua página de Facebook que três cenários se perspectivam na mesa de negociações, sendo a primeira a possibilidade de uma das partes (MPLA e UNITA), abandonar as suas exigências e a segunda a manutenção do actual braço de ferro, com a UNITA a não participar do pleito eleitoral. Uma terceira saída será encontrar uma alternativa política, que permita aos dois partidos manter a actual presidente da CNE, mas fazendo outras concessões.
Entretanto, fontes familiares ao dossier da CNE sugeriram ao Jornal que o caso da indicação da jurista Suzana Inglês deveria ser tratado na Câmara do Cível e Administrativo do Tribunal Supremo, cujo responsável é, nem mais nem menos, o juiz Caetano de Sousa, a quem Suzana Inglês substituiu na CNE e a quem declarou uma “guerra aberta” contra Caetano de Sousa, que inclui a perseguição de quase todos os funcionários que com ele trabalhavam, responsabilizando-o pelos “podres” da casa, a começar pelo inusitado atraso de salários.
Acontece que Caetano de Sousa não aceitou tomar conta do caso e endossou-o para o presidente do
Tribunal Supremo, Cristiano André, que, por seu turno, o remeteu para a juíza, Joaquina Nascimento, facto que pesou no tempo em que a decisão deveria ser tomada.
As direcções dos dois partidos terão tomado tal decisão, em razão da onda de contestação, que esta nomeação tem sido alvo até mesmo por membros do MPLA que reconhecem o “erro crasso” cometido com a indicação daquela figura.
A UNITA, o Bloco Democrático e a FNLA já declararam que vão levar as suas exigências até às últimas consequências, daí os dois principais partidos angolanos terem decidido negociar para encontrarem uma
saída politicamente consensual e não comprometer a realização das eleições este ano.

Ex-esposa de Quim Ribeiro nega "envolvimento" no crime



A funcionária dos serviços prisionais, Januária Bernardo, ex-esposa de Quim Ribeiro, esclareceu em tribunal digitalizou a carta em que o malogrado Joãozinho pretendia denunciar os seus superiores hierárquicos, mas garantiu que não tinha comentado o conteúdo da missiva ao ex-comandante de Luanda.
“Levei dois dias para escrever a carta, nunca contei nada ao Quim Ribeiro, nem a pessoas da minha família. Apenas era um segredo meu, profissional”, assegurou.
Questionada sobre quem a teria contactado para digitalizar a carta, Januária Bernardo respondeu que foi o seu chefe, de nome Cunha. ”Foi o meu chefe que veio ter comigo. Na altura em que escrevi a carta, estavam apenas três pessoas na sala: eu, Joãozinho e o meu chefe, ele ditava e eu escrevia”. A declarante acrescentou que a carta dizia que o Joãozinho estava a ser perseguido pelos comandantes Quim Ribeiro e
Augusto Viana.
Durante a mesma audiência foi também ouvida Ana Lisadra. A declarante é esposa de um dos companheiros de Joãozinho, um médico que também se encontrava preso na cadeia de Viana.
Ana Lisadra confirmou em tribunal ter contactado o ex-comandante de Luanda para lhe entregar a carta que o seu marido mandou entregar pessoalmente ao Quim Ribeiro ou ao senhor Mário Silva.
“Fui pessoalmente ao Comando Provincial de Luanda ter com o senhor Quim Ribeiro, mas ele estava ocupado e a secretária disse que tinha que aguardar. Como vi que o tempo estava a passar e que tinha muitas coisas na cidade, resolvi deixar o local, mas deixei o meu contacto e a jovem deu-me o contacto do comandante Quim Ribeiro. Momentos depois, a secretária liga para mim para saber a minha localização. Disse a ela onde eu estava”, contou.
A declarante disse também que, por volta das 17h00, ligou para o réu Quim Ribeiro a dizer quem ela era e porque é que estava a telefonar-lhe. “Ele disse que viria ao meu encontro, mas não apareceu. No dia seguinte, logo pela manhã, recebo o telefonema de um homem que dizia que foi mandado pelo comandante Quim Ribeiro para lhe entregar a carta. Liguei para ele para confirmar se era verdade, ele disse que sim e entreguei a carta”.
Segundo a mulher foram dois homens que vieram numa viatura de marca Land cruiser, de cor preta e de vidros fumados. “Os homens nem desceram do carro, eram dois, um magro e alto e o outro era baixo”, descreveu. No mesmo instante, foi interrogada se os homens estavam no meio dos 22 arguidos. A declarante disse não se lembrar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Ex-esposa de Quim Ribeiro terá contribuído para os assassinatos

O antigo comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, Joaquim Vieira Ribeiro, terá achado que o malogrado Domingos Francisco João “Joãozinho” pretendia denunciá-lo ao ministro do Interior e ao comandante geral da Polícia, respectivamente Sebastião Martins e Ambrósio de Lemos, por intermédio da sua ex-esposa Januária Miguel Paulo, reeducadora da Cadeia Central de Viana.
Mãe de uma filha do oficial superior com 32 anos de idade, Telma de Fátima Paulo Ribeiro, a informação sobre Januária Miguel foi revelada pelo procurador adjunto das Forças Armadas Angolana (FAA), tenente general Adão António, quando fazia a leitura da pronúncia durante a primeira audiência do julgamento, realizada nas instalações da Base Naval da Marinha de Guerra.
A ex-esposa do comissário Quim Ribeiro e Joãozinho conheceram-se casualmente no estabelecimento prisional, dois dias depois dele ter sido para ali encaminhado para cumprir a pena de quatro meses e 15 dias de prisão efectiva, decretada pelo Tribunal Municipal de Viana.
Por causa das supostas perseguições de que sofria, o superintendente Domingos João solicitou a Manuel Paulo Armando, um dos responsáveis da secção de reeducação penal da cadeia, autorização para informatizar uma carta. A escolha recaiu para a esposa do antigo comandante de Luanda, que o ajudou.
“Para azar do falecido Joãozinho, a senhora Januária Paulo, depois de digitalizar o documento, informou do seu conteúdo o comissário Joaquim Vieira Ribeiro, seu anterior esposo, com o qual tem uma filha de 32 anos, de nome Telma de Fátima Paulo Ribeiro”, revelou o tenente general, baseando-se nas informações prestadas pelo antigo comandante de Viana, Augusto Viana Mateus, na fase de instrução processual, contidas nos autos.
Segundo o procurador, a antiga esposa contou que, além de ‘Quim’ Ribeiro, o documento, feito em dois dias, denunciava também os arguidos António João, António Rodrigues, João Caricoco, Sebastião Palma, Manuel Coceiro, Lutero José e Augusto Viana Mateus.
De acordo com os autos, Januária Paulo disse ainda que Joãozinho alegava ser perseguido por um grupo de “malfeitores” pertencentes à Polícia Nacional, encabeçado pelo comandante provincial e os seus subordinados acima mencionados, porque estes tinham desviado parte dos três milhões e 700 mil dólares encontrados na residência do funcionário do Banco Nacional de Angola, Fernando Gomes Monteiro.
Com as informações que recebeu da sua ex-mulher, Quim Ribeiro terá ficado furioso, segundo a acusação, e reuniu-se nas instalações do Comando Provincial de Luanda com o superintendente Augusto Viana Mateus (ex-comandante da Divisão de Viana) e António João (então director da DPIC), agora réu, para planificar supostamente a morte de Joãozinho.
“Aos quais disse, estando já o superintendente chefe Joãozinho preso e a cumprir pena em Viana, devem tê-lo sob controlo e linchá-lo, mas ao saírem do gabinete o superintendente Augusto Viana informou ao arguido António João que não cumpriria a ordem dada pelo superior hierárquico porque não se tinha formado para matar pessoas”, declarou o procurador das FAA.
Na sessão de julgamento, ao escutar todas estas informações que o incriminavam, Quim Ribeiro cruzou os braços e levou a mão esquerda à boca, alterando constantemente a sua expressão facial, ora olhando para os juízes, ora para os colegas.
Suposta participação do médico no crime Com o passar do tempo e consciente das “barreiras” que teria de enfrentar assim que saísse em liberdade, Joãozinho foi aprimorando a denúncia e, para melhor estruturá-la, contou com o auxílio do agente prisional Saimom Pedro Cândido e do médico Adelino Dias dos Santos. Os três conheceram-se na cadeia de Viana.
De acordo com informações prestadas por Saimom Cândido, durante a fase de instrução processual, a relação de amizade que existia entre o médico e Joãozinho terminou por culpa deste último, que chamou o primeiro de ‘corno’.
Em retaliação, o arguido Adelino Dias dos Santos incumbiu a sua esposa Ana Leandra Baptista Maurício a missão para fazer chegar ao comissário Joaquim Ribeiro a prova material das informações que lhe tinham sido avançadas pela sua ex-companheira Januária Paulo. O documento estava num envelope castanho, selado, de tamanho A4. Por esta razão, o Ministério Público acusa o médico de ser cúmplice dos referidos crimes.
Com a pena a aproximar-se do fim, os acusados reforçaram ainda mais o controlo dos espaços do recluso.
Orientaram o oficial Domingos José Gaspar que contactasse o directoradjunto da cadeia de Viana, José Manuel Teixeira para que os ajudasse a chegar ao emissário das provas materiais. O que veio a acontecer às 9 horas e 30 minutos do dia em que Joãozinho foi solto.
“Significa que ao sair deste encontro, foi imediatamente ter com Quim Ribeiro e Caricoco, aos quais prestou as informações que colheu e serviram para planificar o linchamento do oficial superior Joãozinho, nas primeiras horas do dia seguinte como veio a acontecer”, detalhou.
De acordo com os autos, a planificação e execução de Domingos Francisco João e Domingos Mizalaque foi discutida pelos arguidos Quim Ribeiro, António João, António Rodrigues, João Caricoco, Sebastião Palma, Manuel Coceiro, José Gaspar, Nicolau Teixeira, António Simão, Eduardo Silva, João Caixa, Yuri de Matos e José Mateus, pela forma como estes responderem ao interrogatório na fase de instrução processual. O julgamento está a ser dirigido pelo tenente general Cristo António Alberto, coadjuvado pelos brigadeiros Francisco Augusto e Domingos Salvador da Silva, todos juízes-conselheiros do Supremo Tribunal Militar. A Procuradoria é representada pelo tenente general Adão Gabriel António, auxiliado por dois magistrados judiciais.
A equipa de advogados de defesa é constituída por Sérgio Raimundo, William Tonet, José Carlos Miguel, Constantino Mendes, José Manuel Ventura, Mariano Gomes, José Manuel, Cipriano de Jesus Pires, Casimiro Calei, Daniel Andrade.
A assistência dos familiares das vítimas é constituída apenas por David Mendes e Afonso Mbinda.


Provas do crime
O Ministério Público (MP) aponta como provas materiais dos crimes a autópsia dos cadáveres de Domingos Francisco João e Domingos Mizalaque, a conversa mantida entre alguns dos réus e uma agenda pertencente ao arguido Nicolau Abel Teixeira, supostamente encontrada numa das viaturas utilizadas pelos autores dos disparos contra as vítimas. Como prova documental foi também evocado o conjuunto de chamadas telefónicas dos réus fornecidas pela rede móvel Unitel, as relações das viaturas da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) orgânicas e apreendidas que os arguidos muitas vezes utilizavam com matrículas operativas (como aconteceu no dia do homicídio) e as cartas denúncias escritas pelo malogrado Joãozinho.
A fototábua elaborada pelos peritos Lourenço da Silva e Gaspar Lima apontam que foram três homicidas que dispararam contra a viatura emboscada e às duas vítimas. A mesma indica o tipo de arma utilizada, a falsificação das provas, as causas das mortes e a reconstituição do crime.
Suspeita-se que a viatura seja uma Ford Ranger que se encontra apreendida, assim como algumas armas. O representante do Ministério Público salientou que os arguidos pretendiam fazer crer que os meios eram das vítimas, mas apurou-se que foram retiradas de um lote apreendido pelo Departamento de Investigação Criminal de Viana durante algumas micro-operações realizadas no mesmo município.
O Ministério Público tem ainda em sua posse uma presumível confissão do crime do arguido Domingos José Gaspar feita pelo director adjunto dos serviços prisionais, José Manuel Teixeira, e os invólucros e projécteis que terão sido usados na morte de Joãozinho e Mizalaque.

Roberto Saviano: jornalista jurado de morte por ter escrito sobre a máfia Italiana

"Escritor maldito", que vive escoltado 24 horas por dia devido à ameaça da Camorra, falou ontem sobre a máfia em Santa Maria da Feira.

Fonte: Diário de Notícias


Sente falta das coisas banais, como sair para beber um copo, passear, não pode sequer ir ao supermercado sozinho. Vive "uma não vida", onde tudo é preto ou branco, sem espaço para a diferença.
Com a publicação do livro Gomorra, em 2006, ganhou prémios, elogios, vendeu milhões de livros, mas é-lhe impossível sentar-se numa esplanada com o sol a bater-lhe nas costas. A máfia napolitana não perdoa a Roberto Saviano a dissecação do seu império económico e jurou-lhe a morte.
Em Portugal, soube o DN, pôde saborear um pouco das coisas simples da vida. Na sua mais recente visita às terras de Camões, ainda que escoltado, esteve em Lisboa a comer os famosos pastéis de Belém. No Porto, a cerca de 30 quilómetros de Santa Maria da Feira, onde esteve para falar de "máfia e mercado global", sentiu-se "em casa". "A sua geografia faz-me sentir como se estivesse numa cidade da minha terra", disse.
Nada é simples. Com apenas 29 anos, é um “escritor maldito”, perdeu amigos e namorada, a família afastou-se, muda constantemente de casa e a única companhia são os cinco seguranças que o acompanham 24 horas por dia. Por isso as suas primeiras palavras foram para agradecer a discrição com que foi escoltado pelas autoridades portuguesas, o que lhe permitiu sentir-se um pouco mais livre, normal. "Fico muito agradecido. Em França e Espanha fazem-no com muita ostentação."
Antes de começar a falar, coça a cabeça rapada, gesto nervoso que repete várias vezes. A apenas três dias de completar 30 anos. Roberto Saviano não consegue disfarçar que se tornou um homem tenso. Tem aquele ar de mafioso já muitas vezes descrito pelos órgãos de comunicação, olhos penetrantes, frequentemente distantes, mas que sorriem de volta quando é interpelado pelos participantes no simpósio.
Veste de negro, camisa branca. Rói discretamente as unhas, mexe as mãos enquanto fala, repete inúmeras vezes o gesto de levar o dedo às têmporas. Ao longo de todo o encontro, vai recebendo e enviando sms, uma das poucas formas de contacto com os que lhe são próximos. No final de cerca de quatro horas de conversa, sai do auditório para uma sessão de autógrafos, sempre rodeado pelos discretos seguranças cuja presença não se faz notar.
Quando Renzo Barsotti, o organizador, decidiu que este ano o simpósio versaria a "necessidade quase imperiosa do sistema capitalista de ter espaços obscuros onde as organizações criminosas pudessem actuar", o primeiro nome que lhe veio à cabeça foi o de Roberto Saviano. Já este, sabe que "para o público português é muito estranho que alguém possa ser condenado à morte por escrever um livro. A máfia napolitana [o Sistema, como lhe chamam os membros dos clãs, e não Camorra, um termo policial usado por juízes, jornalistas e guionistas] "não tem medo de mim, do que eu escrevo, tem medo dos meus leitores". "Milhões de leitores [como é o caso de Gomorra, que já vendeu mais de três milhões de cópias em Itália e foi traduzido em 53 países] significa que se está a dar atenção a estas dinâmicas e, isto sim, faz-lhes medo", diz o escritor e ex-jornalista.
Com Salman Rushdie, outro escritor que teve a vida sob um fio, aprendeu que "é muito difícil viver numa situação assim e continuar livre por dentro". Pior do que a censura, diz, é a indiferença. A Camorra é uma organização que factura cem milhões de euros por ano, uma das que mais influência tem nos mercados internacionais, e "estas notícias não são censuradas pelos jornais" mas nem sempre se lhes dá importância.
O napolitano diz não ser fácil falar sobre organizações criminosas italianas noutros países por ser uma realidade aparentemente distante destes, mas "a União Europeia está cheia de capitais mafiosos". "Contar pode significar sonhar com uma mudança, pode ajudar outros países a perceber onde é que os traficantes estão a investir, o que é que está a acontecer". "Escrever, significa dar confiança ao poder da palavra", ainda que tenha sido este a atirá-lo para um limbo onde "há a constante sensação de viver pela metade ou de estar morto pela metade".

Roberto Saviano desabafa que sente a constante sensação de estar morto pela metade

Nesta entrevista publicada pelo jornal português Diário de Notícias, Roberto Saviano, fala sobre a forma como vive depois da públicação do livro. Ele conta que a sua prioridade era contar a vida e, sobretudo, ter uma vida. Tirando as conferências que dou, tudo me parece sempre o mesmo dia. Eis a entrevista:


No livro mostra como os grupos criminais se cruzam com a vida de todos, não apenas em Itália mas também no resto da Europa. Portugal é também uma porta de entrada para o narcotráfico?

Não possuo muitos elementos mas Portugal já foi um território aficcionado dos mafiosos e creio que pode voltar a ser. Lembro o assassinato, nos anos 80, de um chefe mafioso em Cascais, para onde se tinha retirado, assim como a prisão de Emílio Iovine, apanhado cá e ligado a actividades das máfias italianas, que branqueavam aqui dinheiro. Toda a droga que passa por Portugal e Espanha, muito provavelmente foi comprada por cartéis de droga italianos. Não sou especialista em crime português, até porque nos relatórios que li não se fala muito sobre Portugal. Li sobre alguma facilidade no trânsito nos portos portugueses por não ser um país muito atingido pelo terrorismo.

Espanha está mais susceptível?
A vizinha Espanha tornou toda a península Ibérica numa espécie de paraíso para os investimentos. Mas aqui os mafiosos não derramam sangue e os Governos ficam muito distraídos relativamente a estes problemas. Espanha é uma espécie de el dorado onde é fácil branquear dinheiro, esconder-se. Estamos muito longe de resolver este problema na Europa, não há uma associação anti-máfia comum.


Actuam na aparente legalidade?
Os EUA já perceberam que a máfia é um problema europeu. A atenção que se presta ao terrorismo islâmico distrai de outros problemas. No dia a seguir ao atentado às Torres Gémeas houve uma escuta perto de Nápoles que apanhou uma conversa entre membros de uma família muito poderosa. Diziam: "Viste o que se 'libertou' na baixa de Nova Iorque?" Eles falavam de uma enorme quantidade de espaço para apartamentos. "Temos que ir para lá, participar na reconstrução com os nossos investimentos", diziam. A máfia é muito mais rápida na gestão burocrática do dinheiro. Quando houver uma retoma económica, os capitais do narcotráfico vão determinar a política financeira dos bancos. Esta vai ser controlada e dirigida pelos cartéis do tráfico.

De que forma se desdobra actualmente o crime organizado?
Hoje existem dois mercados de referência no mundo: o petróleo e a cocaína. Quase todo o mercado de cocaína é branqueado em imobiliária, transportes... Os milhares de operações que se fazem para branquear este dinheiro são impossíveis de reconstituir, as próprias máfias não o conseguem.

Como é o seu dia-a-dia? Como vive uma pessoa que fez da sua arma a palavra e esta, ao mesmo tempo, é o seu pesadelo?
Uma situação destas influencia totalmente a tua vida. Não vivo com medo, porque convivo tanto com esta situação que o medo passa a segundo plano. Não é um acto de coragem, nem é ser temerário, é apenas um acto de distracção. Vivo com uma escolta blindada de cinco homens e o quotidiano é muito pesado, porque quase não vejo pessoas. Há a constante sensação de viver pela metade, ou de estar morto pela metade.


O que sente relativamente ao seu livro?
Por um lado, sinto uma grande satisfação por tê-lo escrito, por outro odeio-o porque me obrigou a viver uma vida que é muito difícil. A minha prioridade era contar a vida e, sobretudo, ter uma vida. Tirando as conferências que dou, tudo me parece sempre o mesmo dia.

Arrepende-se de tê-lo escrito?
Não, não me arrependo mas já o amaldiçoei muitas vezes. Voltaria a escrevê-lo, apesar de dizer o contrário quando estou mais desencorajado.

Do que é que tem medo?
Do isolamento, tenho muito medo da falta de credibilidade que tem sido alvo de muitos ataques.

Como vê o seu futuro?
Não sei sequer se tenho futuro nem qual será. Sonho em transferir-me de Itália, ir para um país estrangeiro onde possa continuar a escrever. Vou tentar ir para um país onde possa caminhar, andar livremente.

Pensas que chegará o dia em que te dirão que estás livre, que não és mais perseguido?
Um dia encontrei Salman Rushdie em Nova Iorque, que me disse que eu tinha dois caminhos a seguir, tal como ele fez: "Festas e mulheres". Ele queria dizer "curte a vida, sonha com uma felicidade que vai para além desta condenação". E eu espero conseguir.
Declarações produzidas em conferência de imprensa e nas respostas às perguntas do público do simpósio

Paulo Sérgio aborda “Burla Tailandesa” em livro

O jornalista Paulo Sérgio aborda “Burla Tailandesa” em livro. Uma obra que relata os meandros desse mediático caso que envolveu generais,...