terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Satisfação: Momento da confirmação



Um minuto depois de ter sido anunciado que era a vez das mulheres que não conseguem conceber, o portão do templo foi tomado de assalto pela enorme quantidade de senhoras que ali se dirigiram. Empurravam-se de um lado para o outro e quebravam até as regras de protocolo.
No recinto coube apenas um número inferior a 60 senhoras e as demais tiveram que aguardar. Ajoelhadas, elas suplicavam pela ajuda de Deus em voz alta, enquanto a líder e os seus ajudantes ficavam à volta a observá-las.
A pastora passava entre elas e pegava na cabeça de cada uma delas.
Aquelas que fossem tocadas consideravam-nas como grávidas, as demais continuavam a clamar pela intervenção divina e fazer uma reflexão para ver se não estavam a violar algumas das regras estabelecidas.
Enquanto algumas das crentes tocadas rezavam com mais fervor, outras perdiam as forças. As ajudantes da pastora retiravam-nas dali e no final,a oficial da Polícia aconselhou-as a não desistirem para que o seu propósito seja atendido. “As senhoras que estão a ser tocadas é porque Deus já ‘operou’, aquelas que não tiveram esta graça devem continuar a rezar e não violarem nenhuma das seguintes regras, que passam por não ter mais de um parceiro, não consumir álcool e a permanecer firme e perseverante na fé e na oração”, disse um dos responsáveis, que se predispôs a prestar explicações à equipa de Tribuna da Kianda, enquanto decorria o culto.

Procura:Templo esgotado


O templo sede funciona actualmente no quintal da residência da pastora, com aproximadamente 20 metros de comprimento e oito de largura, numa das ruelas da comuna da Camama.
Mas prevê-se a transferência para uma outra zona onde está a ser erguida a nova sede.
Mais de três mil pessoas participam no culto do lado de fora (ocupando a rua), sentadas em cadeiras de plástico, pedras, muros e montes de areia. Através de um sistema áudio instalado no local, os fiéis tomam conhecimento do momento de de sentar, levantar, pedir ou louvar a Deus.
As paredes estão cobertas com cortinas brancas e quem quiser apresentar os seus problemas ao Altíssimo pode fazê-lo ajoelhado: “já aconteceu comigo e assim que acabei de rezar encostada à parede, as dores passaram e nunca mais regressaram”, contou Feliciana Paulo (na foto).





No lado esquerdo do quintal está o altar feito de cimento, apetrechado com três púlpitos de vidros, cadeiras vermelhas e cremes. Poucas são utilizadas durante os cultos.
As celebrações decorrem das 6 às 7 horas de segunda a sexta-feira(com leitura e meditação da Bíblia Sagrada) e segue-se a parte da cura divina que termina às 15horas, feita com água e oração.
Aos domingos, o culto é mais prolongado, começa às 9 horas e termina às 3 da Manhã, por ser um dia em que se rende homenagem especial a Deus. Existem fiéis que ali pernoitam nos dias de semana para ocuparem os lugares da frente.
Para que ninguém saia do recinto sem ser atendido, as secções de oração e banho são realizadas por grupos: das senhoras com problemas de conceber, das grávidas, das mulheres com outras dificuldades, das crianças e dos homens. Este último inclui os que têm problemas de impotência sexual, infertilidade, entre outras coisas.

Mamã Calumbo: Líder defende que milagres existem

Josefa Calumbo Miguel (na foto), 32 anos, líder da Igreja Ministério da Cura Divina de Angola, disse que discorda dos pastores que pregam a teologia que milagres não existem, realçando que Jesus Cristo garantiu que nos últimos tempos havia de derramar os seus espíritos aos seus filhos para que profetizem e curem os aflitos. E que só dizem isso porque estão a perder a “clientela”, como denominam os crentes.
“Estou a ter muitos problemas com os meus colegas pastores e sacerdotes por estarem a perder os seus seguidores por contrariarem a mensagem de Deus, criando igrejas só para angariarem fundos financeiros”, desabafou.
Respondendo às pessoas que duvidam da bênção derramada às mulheres com dificuldades de procriarem, a líder disse que “não há nenhuma mulher que fica com água na barriga durante anos e não tenha nenhuma sequela. É para nós sabermos que tudo o que vem de Deus é mal visto pelos homens”.
Calumbo acrescenta que “não é esse o meu caso. Estou a lutar de modo a salvar vidas humanas para amanhã levar ao Cristo Jesus. Não tem sido fácil por ser em minha casa, o tanque é meu, o povo usa o meu banheiro e até as paredes estão a rachar. Mas eu não consigo cobrar nenhum Kwanza”. Segundo confessa, a Igreja não solicita nenhuma quantia monetária aos seus membros nem realiza cultos especiais para angariar dinheiro. Os templos estão a ser erguidos com o montante que recebe das doações que acontecem livremente.
Disse ainda ao Tribuna da Kianda que a ideia de criar aquela congregação religiosa não nasceu dela mas de um propósito de Deus, que a escolheu ainda no ventre da sua mãe.
“Essa ideia não é minha, é de Deus. Existem muitas pessoas no mundo, entre homens e mulheres, mas se o Senhor derramou em mim este dom especial é porque ele quis”, justificou a pastora, que se iniciou em 2004, na cidade de Saurimo, sua terra natal, quando tinha apenas 24 anos.
Ela conta que começou a realizar as suas actividades naquela parcela do território nacional e descolou-se à capital do país em Março de 2009, também sob orientação divina, para cumprir com a orientação superior de expandir a obra. Diz que em Luanda a sua actividade não foi fácil porque existem muitas religiões, grandes templos luxuosos e pregadores da palavra. Mas conseguiu vencer todas as barreiras.
Josefa Miguel recordou que foi muitas vezes marginalizada, rejeitada, ofendida e apedrejada. Já lhe atiraram urina e água de peixe num momento em que pregava o Evangelho. Houve até quem soltou os seus cães para que a mordessem.
Aos crentes, os responsáveis da Igreja solicitam apenas que disponibilizem fotocópia dos seus bilhetes de identidade autenticada para ajudarem a legalizar a Igreja junto do Ministério da Justiça.
O processo de legalização está a correr os trâmites legais, mas para que a Igreja seja oficialmente reconhecida e conste no Diário da República, são precisas 100 mil assinaturas de crentes, acompanhadas das respectivas cópias dos bilhetes.
A Igreja funciona actualmente com uma autorização provisória para realizar as suas actividades em todo o território nacional. Conta com representações no Negage (Uíge), Saurimo (Lunda Sul), Ndalatando (Kwanza Norte) e Malange. Nas províncias em que ainda não está instalada tem apenas representantes a evangelizarem.
Em Luanda possui templos espalhados em vários municípios.
“Estamos a trabalhar no sentido de reunirmos essas assinaturas, por isso é que estamos a exigir aos irmãos que estão a vir expor os seus problemas que tragam os documentos mencionados para legalizarmos a Igreja”, precisou.

Fé e Medicina juntas

Questionado se é possível que alguém que a ciência comprovou a esterilidade consiga engravidar através da oração, o psicoterapeuta sexual do Hospital Psiquiátrico de Luanda Nvunda Tonet considera que a fé é importante em qualquer tratamento médico, mas não se deve confundir a crença em determinada seita religiosa com a resolução de um problema físico ou fisiológico.
“Existem actualmente vários tratamentos para fertilização e neste momento em Angola o ante-projecto está a ser debatido no sentido da legislação permitir que as mulheres que apresentem dificuldades em engravidar possam ser submetidas a tratamento médico no país”, declarou. O psicólogo acredita que a aderência que se regista na Igreja da Cura Divina tem a ver fundamentalmente com o desespero humano e a frustração diante da opção de vida. Considera que o ser humano diante do desespero muitas vezes perde o poder de raciocínio, de análise e síntese e passa a acreditar naquilo que a sua vontade precisa ou acredita ser fundamental nos seus objectivos de vida. “As religiões devem pautar-se por aquilo que estão vocacionadas: a fé”, precisou.
No que toca à impotência sexual, o também professor universitário explicou que existem vários motivos que podem determinar a impotência sexual e a infertilidade. Um deles pode ser o consumo excessivo de substâncias psicoactivas: álcool, drogas, anfetaminas, entre outros. “O outro factor preponderante são os problemas médicos ou complicações derivadas delas, como é o caso de um indivíduo após um Acidente Vascular Cerebral (AVC), bem como problemas circulatórios, neurológicos ou doenças degenerativas e muito frequentemente problemas emocionais”.
Nvunda Tonet explicou que o mecanismo de erecção, assim como qualquer outra resposta sexual, torna-se sensível quando exposto a tensão. “Infelizmente, na nossa cultura, tende a confundir-se o medo, vergonha e culpa com sexo, atrapalhando os momentos em que deveria predominar a entrega, amor e o prazer”, frisou.
O autor do livro “Psicólogos, porquê e para quê?” apela a todos os indivíduos com problemas que procurem ajuda profissional por ser a forma mais adequada, visto que se evita a perda de tempo e não se corre o risco de perpetuar a dificuldade.

Igreja Cura Divina ‘acaba’ com infertilidade


Há nove meses que Feliciana Pedro Paulo, 30 anos, se levanta às cinco horas da manhã, de terça a sexta-feira, para tomar os quatros táxis que lhe permitem percorrer a distância que vai de sua casa ao templo sede da Igreja do Ministério da Cura Divina de Angola, na zona de Camama.
Apesar de já ser mãe de dois filhos, ela contou ao Tribuna da Kianda que estava há vários anos a tentar conceber o terceiro, mas não conseguia por motivos que os médicos que a consultavam diziam desconhecer.
Atendendo a tal situação, concluiu que estava diante da mesma dificuldade que enfrentou para engravidar anteriormente e que só conseguiu solucionar graças à intervenção de médicos tradicionais.
“Considero-me uma pessoa de sorte por ter sido abençoada por Deus pelo facto de ter ficado grávida no mesmo mês em que comecei a frequentar a Igreja, isto é, em Abril do ano passado”, disse a jovem, que acabava de participar no momento de oração das mulheres grávidas.
Acrescentou de seguida que “contrariamente aos partos anteriores, neste não foi preciso recorrer a nenhum curandeiro, fiz apenas as minhas orações e o senhor as ouviu, usou a nossa mãe e obtive a confirmação”. Feliciana Paulo disse que gastou muito dinheiro na Clínica Multiperfil, em consultas, na esperança que conseguisse solucionar os seus problemas. Mas não teve êxito. Seis meses depois, dedicou-se a pedir a Deus que lhe concedesse a graça de engravidar novamente e regressou à unidade hospitalar pública onde fazia regularmente as suas consultas.
Os médicos reconfirmaram a informação que lhe havia sido passada pela líder da Igreja, Josefa Miguel, quando colocou as mãos sobre a sua cabeça, num dos cultos, durante a realização da oração destinadas as mulheres com dificuldades em engravidar. Aí diz ter ficado a saber que estava grávida de seis meses, igual período em que se encontrava a frequentar aquela congregação religiosa. A partir daquele instante, a nossa interlocutora conta que passou a conciliar as recomendações médicas com as religiosas e que tem a última vacina marcada para o dia 5.
Depois disso, só lhe restará aguardar pelo tão esperado momento de trazer ao mundo o seu terceiro filho.
Feliz por ter conseguido satisfazer o desejo do esposo, Feliciana Paulo espalhou a notícia aos parentes com quem partilhava a “frustração” de não conseguir engravidar novamente e eles decidiram conhecer onde foi realizado o suposto milagre. “Trouxe as minhas amigas e parentes que têm o mesmo problema e estão a vê-lo resolvidos. Não temos pago nada em troca disso, a única coisa que nos é solicitada é uma fotocópia dos nossos bilhetes de identidade para legalizar a Igreja”, disse. A pastora é ajudada a celebrar o culto por um grupo de senhoras trajadas de batas brancas que se dizem abençoadas por Deus para ajudarem a realizar tais actividades. Entre elas, estava uma oficial da Polícia Nacional (intendente) que diz ter acorrido ao local porque também estava com dificuldades para conceber.
A agente da autoridade, que preferiu não ser identificada, disse que já viajou por diversos países à procura de solução para o seu problema, mas os especialistas diziam que o seu problema de infertilidade era irreversível.
Depois de começar a frequentar a Igreja e a cumprir escrupulosamente as orientações que ali lhe foram dadas, a oficial superior da Polícia confessou que conseguiu engravidar.
“Estou a usar esta bata porque o Senhor derramou em mim esta graça, durante uma cerimónia de baptismo realizada pela nossa líder na cidade de Saurimo”, explicou a intendente à nossa reportagem.

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