terça-feira, 23 de junho de 2009

Cólera mata cinco pessoas no Bengo


A falta de transporte e a preferência pela medicina tradicional contribuíram para a morte dos pacientes


O chefe do departamento de emergências médicas da delegação provincial de Saúde do Bengo, Zhenzo Makonda Mbuta, revelou esta quarta-feira, 16, a O PAÍS, que cinco pessoas morreram e 45 se encontram sob acompanhamento da equipa médica do Hospital Central da província, em consequência do surto de cólera que assolou a cidade de Caxito nos últimos dias.
O especialista justificou a morte dessas cinco pessoas, pelo facto de a maior parte delas terem dado entrada tardiamente naquela unidade hospitalar. E acrescentou que a falta de conhecimento levou-as a recorrer, antes, aos serviços tradicionais. “Considerámos elevado este número de mortos, mas não podíamos fazer nada porque os recebemos muito tarde, por terem recorrido inicialmente aos médicos tradicionais, por falta de transporte ou desconhecimento”, frisou. Zhenzo Mbuta relatou com tristeza o caso de um paciente de 45 anos, que chegou ao hospital já em situação crítica e que a sua equipa médica não conseguiu salvar.
“Quando recebemos este paciente, só para terem uma ideia, já nem conseguimos canalizar as veias para aplicar o balão de soro”. Os enfermos têm uma média de três a cinco dejecções por dia, acompanhada de muco ou de sangue e, em alguns casos, até de vómitos. Para além dos 50 cidadãos de diferentes idades e sexo a quem se disgnosticou estes sintomas, os técnicos de saúde medicaram um número elevado de pacientes com desinteria comum. “A diferença que existe entre elas pode ser também aferida pelo facto de as pessoas que estiverem com diarreia comum terem um processo de hidratação mais rápido, com relação a esses da cólera”.
Depois de serem recebidos e medicados, os 45 pacientes encontram-se fora de perigo e nas suas residências, com a obrigação de se apresentarem frequentemente no hospital para serem medicados. Entre os cinco mortos constam duas crianças de cinco anos, dois maiores de 45 anos e um jovem de 20 anos. “Já estamos há três dias sem receber novos casos do género”, rematou. A doença, que inicialmente estava a ser considerada como sendo “dejecções estranhas”, foi diagnosticada como cólera através de exames efectuados no Laboratório Nacional de Saúde (LNS). “Enviamos amostras das fezes ao LNS e recebemos a confirmação que se trata de cólera, por isso considero ser de suma importância apelar a população a cumprir com todas as orientações das campanhas que temos feito”, especificou. Acrescentando de seguida que “recebemos pacientes de toda a cidade de Caxito com maior destaque para o bairro Kauango, com 12%”. O governador provincial do Bengo, Jorge Dombolo, reuniu-se esta quarta-feira com técnicos do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde e do comando da polícia naquela província para analisar as medidas que a serem implementadas para conter a doença.

Falta de água potável na origem
O canal de irrigação do Dande com mais de 15 quilómetros, partindo da povoação do Sassa e desaguando na lagoa do rio Bengo, é considerado pelos técnicos de saúde, como a principal fonte de doenças. Por esta razão, a equipa de reportagem desde jornal percorreu o canal de uma ponta a outra e deparou-se com muitos citadinos a retirarem água para consumo, a tratarem da higiene pessoal e a lavarem roupas e viaturas na margem.
Apesar de as autoridades policiais tudo fazerem para proibirem as pessoas de tratarem da higiene no local com patrulhamentos diários, os infractores, à sua maneira, procuram ludibriá-los.
O adolescente José Domingos, de 14 anos, que se banhava no canal como se de uma piscina se tratasse, disse ter conhecimento da existência de várias comunidades que utilizam a mesma água para o consumo diário e de pessoas que perderam a vida lá. “Tomamos banho neste local desde que foi construído, isso é há três anos, e já vimos várias pessoas a morrerem aqui, mas não temos medo porque sabemos concretamente quais são as zonas mais profundas e as rasas”, explicou.
Três quilómetros depois de termos deixado os adolescentes a tratarem da higiene, encontramos Elisa Paula, de 35 anos, a transportar o precioso líquido no interior de um balde branco. “Essa água é simplesmente para lavar a loiça, a roupa, arrumar a casa, bem como para tratar da higiene pessoal da minha família. Aproveitamos a água para beber e cozinhar num fontanário que tenho a escassos metros de distância da minha casa”, justificou. Para além destes dois flagrantes, encontrámos ainda algumas pessoas a lavarem-se e amontoando lixo nas margens do canal.
Questionado sobre a origem desta enfermidade, Zhenzo Mbuta respondeu que a água é um bom veículo para efectuar o transporte das bactérias que originam as diarreias e, neste caso específico, é possível que melhorando a qualidade da água que é distribuída à população, diminuia substancialmente o número doentes.
“A população faz literalmente tudo no canal de irrigação. A esta hora poderás possivelmente não encontrar muita coisa mas no período da manhã é possível encontrares senhoras e crianças a tomarem banho num lado, a acarretarem água para casa no outro e até a defecarem na margem do canal numa outra localidade”, explicou.


Fonte: O País

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