Os estudantes que frequentam o último ano nas universidades públicas e privadas estão descontentes com a falta de disponibilidade dos professores para monitorarem os seus processos de elaboração das monografias, que os habilitarão a aceder ao grau de licenciatura.
Desde 2006 que vários professores da Universidade Agostinho Neto se recusam a tutorar os finalistas por não terem recebido os três por cento do valor de base do seu salário por cada monografia, como estipulam os regulamentos internos daquela instituição pública.
A recusa dos professores, com os graus de mestre ou doutores, faz com que os discentes recorram a uma espécie de ‘tutória paralela’ com os mesmos docentes, que chegam a cobrar, a cada orientado, valores que rondam os 2500 a 3000 dólares norte-americanos.
Fontes da Universidade Agostinho Neto asseguraram que as cobranças são ilegais, mas os estudantes dizem que não têm outra alternativa. Para eles, é pegar ou largar.
O PAÍS apurou que no Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED) e na Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS) existem centenas de alunos que não conseguem concluir as suas monografias há mais de quatro anos por falta de tutores.
Alberto Kissongo, discente do 4ª do curso de Língua e Literatura Portuguesa da FLCS, contou que tem um tutor que não o tem ajudado muito, porque, além dele, também monitora outros 30 trabalhos de finalistas. O orientador não recebe qualquer contrapartida financeira, mas alega estar sempre ocupado.
O regulamento da UAN estipula que cada professor oriente apenas três estudantes finalistas. As regras não são cumpridas porque cada curso conta, no máximo, com cinco professores doutores para acompanharem mais de 40 discentes.
“Até o ano passado, o regulamento da universidade estabelecia que os tutores deviam receber um acréscimo de três por cento do seu salário por cada trabalho que acompanhassem, mas ele só recebeu o subsídio de um estudante e isso desmotivou-o”, disse o estudante da FLCS.
Perante esta situação, Alberto Kissongo enveredou por um processo de auto-orientação para fazer o trabalho de campo, atendendo que o tutor oficial se limita a fazer uma breve apreciação e recomenda-lhe que prossiga porque ‘está num bom caminho’. “Ele não analisa. Se formos a ver, ele olha simplesmente para o trabalho e manda-me continuar a escrever”, desabafou o jovem, com ar de tristeza e insatisfação. O estudante, que há dois anos tenta concluir a sua monografia, diz ter escolhido o referido professor para seu tutor porque ele domina a área em que se pretende especializar.
O nosso interlocutor acredita que os estudantes enfrentam dificuldades porque as cadeiras de Metodologia de Investigação Científica, que serve para os ajudar a elaborar os trabalhos de fim de curso, não são ministradas. E, quando acontece o contrário, tudo é feito em apenas duas semanas, quando devia sê-lo num semestre.
Para contornar os problemas causados pela ausência de um tutor, o estudante Gilberto José Ferraz, do 4º ano do curso de Comunicação Social da Universidade Privada de Angola (UPRA), está a elaborar a sua monografia com a ajuda de um co-tutor.
O discente do ex-ISPRA garantiu que “a elaboração da minha monografia encontra-se na recta final”. Gilberto Ferraz descreveu o co-tutor como sendo a pessoa que está mais ligada ao trabalho do que o próprio tutor, enquanto este último só toma contacto com o material sempre que for necessário o seu parecer.
O regulamento da Universidade Privada de Angola estabelece que os finalistas apresentem primeiro um protocolo com as informações sobre o tema escolhido para a elaboração da monografia.
A aprovação do protocolo é encarado pelos discentes como um longo caminho já percorrido, porque se errarem na sua elaboração as falhas são transferidas para a tese.
O finalista do curso de Comunicação Social contou ainda que apenas dois dos 20 estudantes da sua turma conseguiram elaborar 50 por cento da monografia nesta altura, dado terem dificuldades em encontrar bibliografia e professores que acompanhem a feitura do trabalho.
“Como a tese de final de curso funciona como o trampolim para poderemos receber o canudo e exige muito tempo no momento da sua elaboração, os docentes que estão muito ocupado recusam acompanhar os estudantes, para não assumirem qualquer compromisso que poderão não estar em condições de honrar no futuro”, declarou o discente de Comunicação Social.
O estudante defende que a direcção do UPRA deve atribuir aos finalistas os respectivos monitores e manifestar se vai pagá-los ou não. “Caso não seja ela a fazê-lo nós estamos preparados para tal”, acrescentou.
Por seu lado, Kintas Manjana, estudante do 4ª ano do curso superior de Sociologia da FLCS, também está com dificuldades para elaborar o trabalho de investigação científica.
“Acho que nós aprendemos muito tarde os procedimentos a ter em conta no processo de elaboração de um trabalho de fim de curso.
Defendo isso porque devíamos aprender estas técnicas no primeiro ano, para que, a partir de 3º ano, o estudante estivesse em condições de começar o seu trabalho”, afirmou.
Kintas Manjana considera também que o atraso na conclusão das monografias se deve ao extremo estado de fadiga em que se encontram os estudantes do último ano, pois têm que partilhar o seu tempo entre as salas de aulas, os estágios e as pesquisas.
Regulamento aumenta dificuldades
O regulamento da Universidade Privada de Angola estabelece que só pode tutorar uma monografia o professor que ostenta o grau académico de mestre ou doutor que integram os quadros da instituição. Quanto aos co-tutores, estes podem ser apenas licenciados e leccionarem em outras universidades.
Os finalistas foram unânimes em afirmar que não conseguem distinguir os professores mestres e doutores dos licenciados, dado serem confrontados com anúncios nas vitrinas onde todos são classificados como doutores. “Isso dificulta ainda mais o processo de elaboração dos nossos trabalhos, porque nós sabemos que a maioria dos docentes não tem mestrado nem doutoramento”, declarou o discente do UPRA.
Emboa os regulamentos dos Trabalhos de Fim de Curso de Licenciatura (TFCL) das faculdades da UAN exijam o mesmo não são respeitados. A direcção da Faculdade de Letras realizou recentemente um seminário de capacitação para reafirmar que só aceitam as teses que forem tutorados pelos docentes que detêm os graus de doutores ou mestres.
“Foi anunciado que os licenciados devem limitar-se apenas a auxiliá-los, mas não serão orientadores com o título de tutor, porque as normas que regem o nosso colégio académico assim o estabelece”, explicou Kintas Manjana.
O nosso interlocutor é de opinião que este tipo de seminários não deve ser realizados somente no final dos anos académicos, mas no princípio de cada formação. “A metodologia do trabalho de investigação científico é uma cadeira imprescindível para a elaboração do trabalho de fim de curso”, rematou o estudante da Faculdade de Letras.
Desde 2006 que vários professores da Universidade Agostinho Neto se recusam a tutorar os finalistas por não terem recebido os três por cento do valor de base do seu salário por cada monografia, como estipulam os regulamentos internos daquela instituição pública.
A recusa dos professores, com os graus de mestre ou doutores, faz com que os discentes recorram a uma espécie de ‘tutória paralela’ com os mesmos docentes, que chegam a cobrar, a cada orientado, valores que rondam os 2500 a 3000 dólares norte-americanos.
Fontes da Universidade Agostinho Neto asseguraram que as cobranças são ilegais, mas os estudantes dizem que não têm outra alternativa. Para eles, é pegar ou largar.
O PAÍS apurou que no Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED) e na Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS) existem centenas de alunos que não conseguem concluir as suas monografias há mais de quatro anos por falta de tutores.
Alberto Kissongo, discente do 4ª do curso de Língua e Literatura Portuguesa da FLCS, contou que tem um tutor que não o tem ajudado muito, porque, além dele, também monitora outros 30 trabalhos de finalistas. O orientador não recebe qualquer contrapartida financeira, mas alega estar sempre ocupado.
O regulamento da UAN estipula que cada professor oriente apenas três estudantes finalistas. As regras não são cumpridas porque cada curso conta, no máximo, com cinco professores doutores para acompanharem mais de 40 discentes.
“Até o ano passado, o regulamento da universidade estabelecia que os tutores deviam receber um acréscimo de três por cento do seu salário por cada trabalho que acompanhassem, mas ele só recebeu o subsídio de um estudante e isso desmotivou-o”, disse o estudante da FLCS.
Perante esta situação, Alberto Kissongo enveredou por um processo de auto-orientação para fazer o trabalho de campo, atendendo que o tutor oficial se limita a fazer uma breve apreciação e recomenda-lhe que prossiga porque ‘está num bom caminho’. “Ele não analisa. Se formos a ver, ele olha simplesmente para o trabalho e manda-me continuar a escrever”, desabafou o jovem, com ar de tristeza e insatisfação. O estudante, que há dois anos tenta concluir a sua monografia, diz ter escolhido o referido professor para seu tutor porque ele domina a área em que se pretende especializar.
O nosso interlocutor acredita que os estudantes enfrentam dificuldades porque as cadeiras de Metodologia de Investigação Científica, que serve para os ajudar a elaborar os trabalhos de fim de curso, não são ministradas. E, quando acontece o contrário, tudo é feito em apenas duas semanas, quando devia sê-lo num semestre.
Para contornar os problemas causados pela ausência de um tutor, o estudante Gilberto José Ferraz, do 4º ano do curso de Comunicação Social da Universidade Privada de Angola (UPRA), está a elaborar a sua monografia com a ajuda de um co-tutor.
O discente do ex-ISPRA garantiu que “a elaboração da minha monografia encontra-se na recta final”. Gilberto Ferraz descreveu o co-tutor como sendo a pessoa que está mais ligada ao trabalho do que o próprio tutor, enquanto este último só toma contacto com o material sempre que for necessário o seu parecer.
O regulamento da Universidade Privada de Angola estabelece que os finalistas apresentem primeiro um protocolo com as informações sobre o tema escolhido para a elaboração da monografia.
A aprovação do protocolo é encarado pelos discentes como um longo caminho já percorrido, porque se errarem na sua elaboração as falhas são transferidas para a tese.
O finalista do curso de Comunicação Social contou ainda que apenas dois dos 20 estudantes da sua turma conseguiram elaborar 50 por cento da monografia nesta altura, dado terem dificuldades em encontrar bibliografia e professores que acompanhem a feitura do trabalho.
“Como a tese de final de curso funciona como o trampolim para poderemos receber o canudo e exige muito tempo no momento da sua elaboração, os docentes que estão muito ocupado recusam acompanhar os estudantes, para não assumirem qualquer compromisso que poderão não estar em condições de honrar no futuro”, declarou o discente de Comunicação Social.
O estudante defende que a direcção do UPRA deve atribuir aos finalistas os respectivos monitores e manifestar se vai pagá-los ou não. “Caso não seja ela a fazê-lo nós estamos preparados para tal”, acrescentou.
Por seu lado, Kintas Manjana, estudante do 4ª ano do curso superior de Sociologia da FLCS, também está com dificuldades para elaborar o trabalho de investigação científica.
“Acho que nós aprendemos muito tarde os procedimentos a ter em conta no processo de elaboração de um trabalho de fim de curso.
Defendo isso porque devíamos aprender estas técnicas no primeiro ano, para que, a partir de 3º ano, o estudante estivesse em condições de começar o seu trabalho”, afirmou.
Kintas Manjana considera também que o atraso na conclusão das monografias se deve ao extremo estado de fadiga em que se encontram os estudantes do último ano, pois têm que partilhar o seu tempo entre as salas de aulas, os estágios e as pesquisas.
Regulamento aumenta dificuldades
O regulamento da Universidade Privada de Angola estabelece que só pode tutorar uma monografia o professor que ostenta o grau académico de mestre ou doutor que integram os quadros da instituição. Quanto aos co-tutores, estes podem ser apenas licenciados e leccionarem em outras universidades.
Os finalistas foram unânimes em afirmar que não conseguem distinguir os professores mestres e doutores dos licenciados, dado serem confrontados com anúncios nas vitrinas onde todos são classificados como doutores. “Isso dificulta ainda mais o processo de elaboração dos nossos trabalhos, porque nós sabemos que a maioria dos docentes não tem mestrado nem doutoramento”, declarou o discente do UPRA.
Emboa os regulamentos dos Trabalhos de Fim de Curso de Licenciatura (TFCL) das faculdades da UAN exijam o mesmo não são respeitados. A direcção da Faculdade de Letras realizou recentemente um seminário de capacitação para reafirmar que só aceitam as teses que forem tutorados pelos docentes que detêm os graus de doutores ou mestres.
“Foi anunciado que os licenciados devem limitar-se apenas a auxiliá-los, mas não serão orientadores com o título de tutor, porque as normas que regem o nosso colégio académico assim o estabelece”, explicou Kintas Manjana.
O nosso interlocutor é de opinião que este tipo de seminários não deve ser realizados somente no final dos anos académicos, mas no princípio de cada formação. “A metodologia do trabalho de investigação científico é uma cadeira imprescindível para a elaboração do trabalho de fim de curso”, rematou o estudante da Faculdade de Letras.
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