segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais um duro golpe a imprensa independente de Angola

A compra dos jornais “A Capital”, “Novo Jornal” e “Samanario Angolense” por um grupo empresarial ainda não identificado pode ser considerado como mais um “duro golpe” dado à “imprensa independente” em Angola.
Apesar de não ter sido tornado público o nome do grupo e muito menos o dos seus proprietários, torna-se desnecessário metermos uma lupa para enxergar que isso pode ser considerado como o fim de um ciclo em que à linha editorial destes órgãos não sofria nenhuma interferência externa.
Segundo uma notícia divulgada esta segunda-feira, 31, pelo Jornal de Angola, o “Semanário Angolense” foi negociado por 1,5 milhões de dólares, ao passo que o semanário “Novo Jornal” terá ficado um pouco mais acima deste montante. Quanto ao semanário “A Capital”, a fonte garantiu que os valores da comercialização ficaram muito próximos dos do “Semanário Angolense”.
De acordo com uma fonte contactada pelo único jornal diário do país, numa primeira fase, alguns quadros do “Semanário Angolense” vão continuar em exercício de funções, exceptuando o director Graça Campos, que deve afastar-se, ficando a substituí-lo, como director do título, o jornalista Severino Carlos.
O Director de "A Capital", Tandala Francisco (TF), antecipou este sábado a mudança que o semanário vai conhecer ao escrever, num tom visivelmente dramático, o que ele considerou ser o seu último editorial.
"Este é o último editorial que assino, enquanto Tandala Francisco no semanário A Capital. Vou suspender, pelo menos nesse veículo, essa assinatura com a qual construí uma carreira de uma década, manchada por alguns fracassos, mas sobretudo coroada de muitos êxitos.
Razões de força superior que o tempo saberá esclarecer levam-me a abdicar desta prosa semanal que poderá surgir, quem sabe, num outro formato e com outra assinatura, mas nunca como Tandala Francisco. É assim a vida.
Por vezes, por menos que queiramos, temos mesmo que abdicar daquilo que mais amamos", desabafou o Tandala Francisco.

Novas direcções editoriais
No seu blog (Morro da Maianga), o jornalista Reginaldo Silva diz num texto publicado no domingo, que o “Semanário Angolense” e “A Capital” podem, já na próxima semana, sair para a rua com novas direcções editoriais, na sequência de uma negociação que terá ocorrido nos últimos dias, ao abrigo da qual os dois conhecidos semanários da capital foram comprados pela mesma empresa.
“Tandala não nos diz para onde vai, mas fica claro que "A Capital" não será mais o seu endereço de agora em diante, pelo menos como Director, enquanto aguardamos que o "tempo" nos diga quais foram as "razões de força superior" que levaram que o TF abandonasse o grande amor da sua vida”, explicou o Reginaldo Silva.
“Por ocasião do oitavo aniversário da publicação assinalado no passado dia 4 Abril e a convite do próprio TF escrevi um texto de opinião sobre o desempenho editorial do seu jornal o que fiz com muito gosto, tendo para o feito tecido os mais distintos encómios à independência editorial e à qualidade do projecto”, recordou o autor do Morro da Mianga.
Reginaldo Silva desabafou ainda que “depois desta alteração, cujas consequências editoriais ainda são desconhecidas, receio ter falhado redondamente”.

Recordado o oitavo aniversário.
Por ocasião de mais um aniversário, o jornalista Reginaldo Silva recorreu a sua pena para dizer que “oito anos depois, “A Capital” está aí bem “vivinha da silva” e ao que tudo indica disposta e com forças suficientes (que é o mais importante) para enfrentar a nova etapa da concorrência que, a este nível, devia ser balizada pelo próprio Estado.
É ponto assente que até agora o Governo não tem sabido (ou não tem querido?) assumir as suas responsabilidades constitucionais, com o propósito de impedir o monopólio/oligopólio que no horizonte já começa a ameaçar o mercado da liberdade de imprensa com os seus asfixiantes tentáculos.
Esta etapa, note-se, está a ser “imposta” ao mercado dos jornais e das revistas, pela entrada em cena e com alguma força, do capital privado, que, ao que parece, nem sempre é tão privado assim, pelo menos na sua origem, o que tem estado a alimentar algumas sérias e legítimas dúvidas quanto às suas reais motivações estratégicas.
Vamos pois ter de aguardar pelos próximos tempos para esclarecer muitas dúvidas, mas já com algumas certezas, quanto à natureza tentacular do nosso "polvo".
Salvaguardadas as devidas distâncias, estamos diante daquilo que nos mercados bolsistas se designa por "OPA hostil".”

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