segunda-feira, 29 de março de 2010

Caso Frescura: familiares dos réus realizam marcha

Os familiares dos sete agentes da Polícia Nacional que foram condenados a 24 anos de prisão maior esta segunda-feira, 22, pelo assassinato dos oitos jovens no Largo da Frescura, em Luanda, realizaram duas marchas exigindo que os juízes da 5 Secção do Tribunal Provincial de Luanda (TPL) condenem o comandante Joaquim Vieira Ribeiro como autor moral, por ter autorizado a execução do plano que resultou na morte dos jovens.
A primeira manifestação aconteceu depois de o juiz dar por encerrado a audiência, quando os parênteses dos réus reuniram-se defronte ao TPL exibindo panfleto exigindo a libertação deles e a condenação dos mais altos responsáveis da Polícia Nacional por ter assumido a carnificina.
Num dos cartazes estava escrito: “não são criminosos, nem nunca foram. São apenas pobres e inocentes polícias”, ao passo que num outro a população foi mais longe e dizia “se quiserem dar resposta ao crime, metem os vossos filhos. Comandantes irresponsáveis”. Já num outro lia-se “soltem os nossos familiares”.
Ao tomarem conhecimento que os juízes condenaram os seus parentes a 24 anos de prisão maior, os ânimos se exaltaram, a manifestação que até então era calma e se restringia a exibição dos cartazes acima mencionados, ganhou outro dinamismo e os participantes decidiram marchar até ao comando provincial.
O cidadão Francisco Cruz, irmão de Elquias Bartolomeu, que estava a comanda-la em companhias de outras irmãs, começou por questionar as razões que levaram o Tribunal a ilibar os mais altos responsáveis da Polícia a nível de Luanda e do antigo comando municipal do Sambizanga sobre a responsabilidade moral do crime.
“Acreditamos que as pessoas que morreram merecem justiça do mesmo jeito que os nossos parentes que sentaram no banco dos réus. Sendo assim, estamos a ver que a justiça só é feita com base na vontade dos membros do Governo. Então se este Governo que nós elegemos é contra a população, vamos fazer com que ele possa repor a liberdade aos nossos irmãos, porque ele tem que ir buscar os reais culpados”, frisou.
Os pronunciamentos dos manifestantes, havidos de justiça, despertaram a curiosidade de todas pessoas que circulavam ou que funcionam na rua Direita de Luanda. Diante de tal situação e ao se aperceberem que eles marchavam em direcção ao Comando Provincial, a equipa de polícias que ali se encontravam, liderado pelo superintendente José Franco, então comandante da Brigada de Motorizada, intervieram rasgando os cartazes a força e empurrando-lhes.
“Senhor não brinca comigo que eu vou te prender. Larga isso!”, alertou José Franco ao Francisco Cruz, quando este tentava transpor a barreira criada pelo seu efectivo para continuar com a marcha.
“A rua é pública e nós como cidadão não estamos a cometer nenhum crime por estar a circular nela. Além do mais o senhor deve saber que estamos num Estado de Direito e Democrático e que a lei vigente no nosso país salvaguarda o direito de livre manifestação, por isso o senhor não vai me prender”, respondeu. Acrescentando de seguida que “nós não vamos invadir nada, o que queremos é uma justiça que se faça com realismo”.
Em resposta a isso, o superintendente disse num tom ameaçador “mais esta rua agora está interdita e será um crime o senhor passar por aqui”.
Enquanto isso, a irmã de Elquias Bartolomeu que responde pelo nome de Mimi e apresentou-se como advogada, questionava porque razão os juízes inocentaram a pessoa que estabeleceu cinco dias para diminuírem o índice de criminalidade no Sambizanga, a que elaborou o plano operacional e a que aprovou a execução dos mesmos. No caso concreto o comissário Quim Ribeiro, o então comandante municipal do Sambizanga, Francisco Ribas, e o ex-comandante da 9ª Esquadra Miguel Francisco “Meganha”.
Ao constatar que não conseguiriam transpor a barreira feita pelos agentes da ordem pública, o líder da marcha orientou aos seus seguidores que fossem dar a volta, optando pela rua Cristão da Cunha, por detrás dos correios.
“Aqui em Angola como tudo se faz por coerção, os nossos parentes foram coagidos e naturalmente não puderam contrariar no Tribunal a verdade aqui apresentada. Mas eles diziam sempre que não podiam dizer a verdade porque estavam a ser ameaçados e isso em si já constitui um crime a nível da justiça”, explicou Francisco Cruz.
No largo Cristão da Cunha, a escassos metros do comando provincial, os manifestantes foram surpreendidos com uma barreira policial reforçada pelos efectivos da Brigada Auto e do Departamento de Investigação. Sem muito espaço de manobra, a advogada Mimi começou a protestar em voz alta através do megafone que os policiais tentavam a todo custo retira das suas mãos, mas sem sucesso.
“Se os agentes cometeram alguma anomalia é porque, naturalmente, houve orientação superior e estes co-autores são os comandantes da província de Luanda. Por tanto, nós queremos que eles paguem por este acto do mesmo jeito que os nossos irmãos estão a fazer”, disse.
A marcha só terminou depois do diálogo que os manifestantes tiveram com o subcomissário Leitão Ribeiro que, em representação ao comandante, se apareceu escoltado por agentes desarmados para tentar acalmar os ânimos.
“Venho aqui para informar-vos que o senhor comandante não virá porque ele está reunido, por esta razão aconselho-vos a regressarem para casa tendo em conta que não poderão fazer nada com esse espírito”, explicou Leitão Ribeiro.
Na esperança de convencer a população, o subcomissário deu-lhes o seu contacto telefónico e comprometeu-se a levar as suas preocupações ao seu superior hierárquico. “Caso ele não fazer nada nós não vamos ficar parados porque, como ele sabe o nosso irmão é inocente. Estivemos com o comandante três dias depois do Elquias ser preso e ele disse que lembrava-se perfeitamente dele, que foi um dos seus melhores alunos e que como ele não era bandido podia ser solto. Como prova disso posso mostrar o cartão-de-visita que ele nos deu”, disparou uma das manifestantes no momento da retirada.
Durante a manifestação, um dos agentes da Divisão da Ingombota que exibia o braçal número 816 tentou impedir a equipa de reportagem de Tribuna da Kianda de continuar a acompanha-la ameaçando receber o rádio gravador.

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