Terça-feira, 2 de Fevereiro. São quase cinco horas da manhã e a reportagem do Tribuna da Kianda deu de caras com uma movimentação inusitada de pessoas defronte ao edifício onde funcionam os serviços consulares da embaixada da África do Sul, nas proximidades do Largo da Maianga, em Luanda. Àquela hora, dezenas de pessoas, sentadas no chão e outras a dormir em viaturas, aguardavam para serem os primeiros da lista para solicitação de vistos.
“Há muita gente neste momento que pretende deslocar-se à África do Sul, mas como a Embaixada só atende 45 pessoas por dia, sou obrigada a pernoitar aqui fora porque caso contrário não conseguirei tratar do visto”, comentou Gisela Mara, que pernoitou nas imediações.
Obrigada a sacrificar-se para obter visto de entrada para o seu filho que deseja visitar o pai que trabalha na África do Sul, Gisela Mara não teve outra alternativa senão pernoitar na calçada, suportando mosquitos e ventos húmidos da madrugada.
A nossa interlocutora contou que chegou ao local por volta das 03h00 e que ainda assim tinha à frente de si outras 19 pessoas, estando ela no 20º lugar da lista. Até ao momento em que a interpelávamos, os 45 lugares da lista estavam preenchidos e as fichas esgotadas, o que pressupõe dizer que os que apareceram depois tiveram maçada perdida.
“Acredito que serei atendida ainda hoje. Tenho pena daqueles que não puderam aparecer mais cedo, ou porque vivem em zonas distantes, ou não têm transporte pessoal para se locomover até aqui”, exprimiu.
Gisela Mara contou que é a quarta vez que vai ali tratar aquele documento, em três anos, e que de lá para cá, a única coisa que mudou foi a passagem da responsabilidade de fazer a lista das mãos dos seguranças para os funcionários da Embaixada.
“Na época em que os seguranças faziam este trabalho, podíamos assinar a lista por volta das 20h00 de um dia antes, mas quando chegávamos aqui no período da manhã, encontrávamos os nossos nomes no 15º ou 20º lugar, ainda que tivéssemos sido os primeiros”.
Francisco André chegou 20 minutos antes de Gisela e aguardava pacientemente pela hora em que os funcionários abririam as portas ao público, às 07h00 da manhã.
“A dificuldade que encontrei para tirar o visto foi ter que vir para aqui às 03h30 da manhã, porque há neste momento muitos angolanos que pretendem viajar para a África do Sul, mas que às vezes não conseguem devido à enchente que se regista”, explicou.
É a segunda vez que Francisco André recorre àquela Embaixada para tratar do visto para entrar na “terra de Mandela”, mas agora, ele acha que a desordem é maior.
Na sexta-feira, 29, Pedro Bráulio chegou à Embaixada da África do Sul por volta das 02h00 da manhã e ocupou o 21º lugar da lista, mas não foi atendido, segundo ele por causa de “manobras pouco claras” efectu-adas pelos guardas.
Naquele dia, Bráulio teve que passar a noite em casa de um amigo na Maianga, junto à Embaixada. Vive na Avenida dos Combatentes, município do Sambizanga.
Indeferimento sem explicação
Hélder Silva disse ao Tribuna da Kianda que adiou a viagem de férias programada para a terra de Mandela, por não receber a quantidade de vistos que solicitou para si, sua esposa e duas filhas.
“O meu passaporte ficou sem visto e nenhum funcionário conseguiu explicar-me concretamente o que se passou.
Quando os questionei, disseram-me para ir passando”, frisou.
Na esperança de obter o visto, Hélder Silva deslocou-se por várias vezes àquela representação diplomática, mas não teve êxito: “Eu não tinha noção da forma como eles trabalhavam, o que considero repugnante. Tive um péssimo atendimento”, denunciou o jornalista.
“Como a emissão do visto de turista demora quatro dias, remarquei a viagem. E ainda assim não obtive o visto no prazo previsto e tive que voltar novamente à TAAG para cancelar o meu voo e remarcar outra vez, o que não será nada fácil”.
Segundo Hélder Silva apesar de a maioria dos trabalhadores deste departamento ser angolana e as regras de funcionamento serem sul-africanas, as coisas andam muito mal, porque nem sequer os passaportes estão organizados por ordem alfabética.
Hélder Silva, que já viajou para a África do Sul em outras ocasiões, disse que ficou estupefacto se deparar com a metodologia de trabalho do consulado, agora em vigor. Quando da primeira vez, nem sequer foi para lá. Quem tratou da aquisição do seu visto foi o departamento de relações públicas da sua empresa.
Um dia antes de ir à Embaixada da África do Sul, Francisco André esteve numa agência de viagens e diz ter ouvido o relato de um cidadão que adiou a viagem porque a agente não conseguiu obter o visto e muito menos teve justificação para o sucedido.
“Na agência onde fui comprar o bilhete de passagem, a recepcionista informou um jovem, que recorreu àquela empresa para tratar do visto, que teria de adiar a viagem por mais alguns dias, porque o seu pedido ainda se encontrava na lista de espera”, contou, sem mencionar o nome da empresa para não criar dissabores.
Depois de prever os transtornos que este atraso poderia causar a outro jovem, Francisco André não hesitou em ir pessoalmente tratar do visto, tendo para o efeito madrugado perto das instalações do consulado.
“Um outro senhor pretendia viajar no sábado passado, mas teve que alterar a data de partida, porque a agência não conseguiu o visto nos prazos previstos”, relatou.
Inglês, o empecilho
A maior parte dos angolanos que se desloca ou pretende deslocar-se à África do Sul não domina a língua inglesa, razão pela qual justificam não estar fixado na vitrina nenhum documento que faça referência aos papéis necessários para tratar dos diferentes tipos de visto.
“Acho que as coisas seriam mais fáceis se eles fixassem na vitrina em português os documentos necessários para tratarmos determinado visto, tendo em conta que algumas pessoas se sacrificam para serem as primeiras, passando a noite aqui fora, mas no momento em que for atendido são informadas que não poderão tratar um determinado documento porque há falta de algo”, disse ao Tribuna da Kianda o jovem Pedro Bráulio.
Bráulio deslocou-se à embaixada por volta da 01h00 da manhã. Era o 14º da lista e recebeu a respectiva ficha que lhe possibilitaria tratar do visto de estudante, como é seu desejo.
Uma das contrariedades resultantes da falta de informação em português, prende-se com o facto de o jovem ter tratado inicialmente o registo criminal em folhas brancas, mas só depois é que lhe foi informado que o Governo sul-africano só aceita este documento emitido em papel de cor azul.
“Acredito seriamente que não sou a única pessoa que falhou neste sentido, porque na maior parte das repartições municipais de justiças emitem estes documentos em papel branco e não azul”, disse o cidadão que pretende deslocar-se àquele país para aprender a língua inglesa.
Era intenção de Tribuna da Kianda obter os devidos esclarecimentos por parte da Embaixada da África do Sul sobre os relatos avançados pelas nossas fontes, mas não foi possível porque os elementos da segurança do edifício impediram a entrada do jornalista, alegando que o encarregado de negócios se encontrava ausente do consulado.
“Há muita gente neste momento que pretende deslocar-se à África do Sul, mas como a Embaixada só atende 45 pessoas por dia, sou obrigada a pernoitar aqui fora porque caso contrário não conseguirei tratar do visto”, comentou Gisela Mara, que pernoitou nas imediações.
Obrigada a sacrificar-se para obter visto de entrada para o seu filho que deseja visitar o pai que trabalha na África do Sul, Gisela Mara não teve outra alternativa senão pernoitar na calçada, suportando mosquitos e ventos húmidos da madrugada.
A nossa interlocutora contou que chegou ao local por volta das 03h00 e que ainda assim tinha à frente de si outras 19 pessoas, estando ela no 20º lugar da lista. Até ao momento em que a interpelávamos, os 45 lugares da lista estavam preenchidos e as fichas esgotadas, o que pressupõe dizer que os que apareceram depois tiveram maçada perdida.
“Acredito que serei atendida ainda hoje. Tenho pena daqueles que não puderam aparecer mais cedo, ou porque vivem em zonas distantes, ou não têm transporte pessoal para se locomover até aqui”, exprimiu.
Gisela Mara contou que é a quarta vez que vai ali tratar aquele documento, em três anos, e que de lá para cá, a única coisa que mudou foi a passagem da responsabilidade de fazer a lista das mãos dos seguranças para os funcionários da Embaixada.
“Na época em que os seguranças faziam este trabalho, podíamos assinar a lista por volta das 20h00 de um dia antes, mas quando chegávamos aqui no período da manhã, encontrávamos os nossos nomes no 15º ou 20º lugar, ainda que tivéssemos sido os primeiros”.
Francisco André chegou 20 minutos antes de Gisela e aguardava pacientemente pela hora em que os funcionários abririam as portas ao público, às 07h00 da manhã.
“A dificuldade que encontrei para tirar o visto foi ter que vir para aqui às 03h30 da manhã, porque há neste momento muitos angolanos que pretendem viajar para a África do Sul, mas que às vezes não conseguem devido à enchente que se regista”, explicou.
É a segunda vez que Francisco André recorre àquela Embaixada para tratar do visto para entrar na “terra de Mandela”, mas agora, ele acha que a desordem é maior.
Na sexta-feira, 29, Pedro Bráulio chegou à Embaixada da África do Sul por volta das 02h00 da manhã e ocupou o 21º lugar da lista, mas não foi atendido, segundo ele por causa de “manobras pouco claras” efectu-adas pelos guardas.
Naquele dia, Bráulio teve que passar a noite em casa de um amigo na Maianga, junto à Embaixada. Vive na Avenida dos Combatentes, município do Sambizanga.
Indeferimento sem explicação
Hélder Silva disse ao Tribuna da Kianda que adiou a viagem de férias programada para a terra de Mandela, por não receber a quantidade de vistos que solicitou para si, sua esposa e duas filhas.
“O meu passaporte ficou sem visto e nenhum funcionário conseguiu explicar-me concretamente o que se passou.
Quando os questionei, disseram-me para ir passando”, frisou.
Na esperança de obter o visto, Hélder Silva deslocou-se por várias vezes àquela representação diplomática, mas não teve êxito: “Eu não tinha noção da forma como eles trabalhavam, o que considero repugnante. Tive um péssimo atendimento”, denunciou o jornalista.
“Como a emissão do visto de turista demora quatro dias, remarquei a viagem. E ainda assim não obtive o visto no prazo previsto e tive que voltar novamente à TAAG para cancelar o meu voo e remarcar outra vez, o que não será nada fácil”.
Segundo Hélder Silva apesar de a maioria dos trabalhadores deste departamento ser angolana e as regras de funcionamento serem sul-africanas, as coisas andam muito mal, porque nem sequer os passaportes estão organizados por ordem alfabética.
Hélder Silva, que já viajou para a África do Sul em outras ocasiões, disse que ficou estupefacto se deparar com a metodologia de trabalho do consulado, agora em vigor. Quando da primeira vez, nem sequer foi para lá. Quem tratou da aquisição do seu visto foi o departamento de relações públicas da sua empresa.
Um dia antes de ir à Embaixada da África do Sul, Francisco André esteve numa agência de viagens e diz ter ouvido o relato de um cidadão que adiou a viagem porque a agente não conseguiu obter o visto e muito menos teve justificação para o sucedido.
“Na agência onde fui comprar o bilhete de passagem, a recepcionista informou um jovem, que recorreu àquela empresa para tratar do visto, que teria de adiar a viagem por mais alguns dias, porque o seu pedido ainda se encontrava na lista de espera”, contou, sem mencionar o nome da empresa para não criar dissabores.
Depois de prever os transtornos que este atraso poderia causar a outro jovem, Francisco André não hesitou em ir pessoalmente tratar do visto, tendo para o efeito madrugado perto das instalações do consulado.
“Um outro senhor pretendia viajar no sábado passado, mas teve que alterar a data de partida, porque a agência não conseguiu o visto nos prazos previstos”, relatou.
Inglês, o empecilho
A maior parte dos angolanos que se desloca ou pretende deslocar-se à África do Sul não domina a língua inglesa, razão pela qual justificam não estar fixado na vitrina nenhum documento que faça referência aos papéis necessários para tratar dos diferentes tipos de visto.
“Acho que as coisas seriam mais fáceis se eles fixassem na vitrina em português os documentos necessários para tratarmos determinado visto, tendo em conta que algumas pessoas se sacrificam para serem as primeiras, passando a noite aqui fora, mas no momento em que for atendido são informadas que não poderão tratar um determinado documento porque há falta de algo”, disse ao Tribuna da Kianda o jovem Pedro Bráulio.
Bráulio deslocou-se à embaixada por volta da 01h00 da manhã. Era o 14º da lista e recebeu a respectiva ficha que lhe possibilitaria tratar do visto de estudante, como é seu desejo.
Uma das contrariedades resultantes da falta de informação em português, prende-se com o facto de o jovem ter tratado inicialmente o registo criminal em folhas brancas, mas só depois é que lhe foi informado que o Governo sul-africano só aceita este documento emitido em papel de cor azul.
“Acredito seriamente que não sou a única pessoa que falhou neste sentido, porque na maior parte das repartições municipais de justiças emitem estes documentos em papel branco e não azul”, disse o cidadão que pretende deslocar-se àquele país para aprender a língua inglesa.
Era intenção de Tribuna da Kianda obter os devidos esclarecimentos por parte da Embaixada da África do Sul sobre os relatos avançados pelas nossas fontes, mas não foi possível porque os elementos da segurança do edifício impediram a entrada do jornalista, alegando que o encarregado de negócios se encontrava ausente do consulado.
Sem comentários:
Enviar um comentário