quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Escola Católica sob forte pressão



Centenas de pessoas pernoitam defronte às escolas católicas para conseguirem um lugar para os seus educandos. São José do Cluny foi um dos casos mais flagrantes



Mais de 300 pessoas pernoitaram nos dias 24 e 25 deste mês em frente à Escola São José de Cluny, afecta à Igreja Católica, na esperança de conseguirem matricular os seus filhos na classe de iniciação.
Os encarregados de educação, que se encontravam no exterior do edifício por volta das 22 horas da passada segunda-feira, 25, foram unânimes em afirmar que não arredariam pé daquele local até alcançarem o objectivo que se tinham proposto.
Para se protegerem do frio e dos mosquitos, alguns encarregados de educação dormiam em esteiras e cobertas na calçada, enquanto outros se refugiavam no interior das suas viaturas.
“Estou disposto a fazer tudo para conseguir uma vaga nesta instituição para a minha filha, nem que tenha obrigatoriamente de passar a noite ao relento, porque não existe local melhor para ela estudar do que aqui”, justificou Elsa Machado, que se encontrava deitada num leito improvisado em companhia de duas amigas.
A senhora acredita que a enchente que se registava no exterior da Escola de São José de Cluny deve-se ao facto de as pessoas confiarem não só na qualidade do ensino e do corpo docente, mas também na possibilidade de os seus educandos fazerem a formação básica e média na mesma instituição.
“É a primeira vez que matriculo alguém da minha família nesta escola e, como já disse, estou disposta a fazer de tudo para conseguir uma vaga. As referências que tenho da escola são muito boas, para além do preço das propinas que são demasiado baixas e da educação religiosa que ela aprenderá”, frisou Elsa Machado.
Apesar da insistência em permanecer no local, Elsa Machado não sabia o valor das propinas que terá de pagar para que a sua educanda possa frequentar a escola.
A falta de honestidade da parte de alguns encarregados de educação ali presentes foi criticada pela maior parte das pessoas como motivo de conflito em relação à ordem de chegada. Segundo Elsa Machado, os seguranças da escola não interferiram no processo e por esta razão um grupo criou uma lista de chegada que era constantemente modificada.
“Antes desta confusão estava no 14º lugar da lista de espera, mas agora estou no 125º aguardando que alguém desista para ver se baixo um pouco mais”, frisou a senhora, acrescentando que “não sei ainda se as mensalidades serão ou não alteradas, mas de qualquer forma acredito que se a direcção da escola tiver que fazer um acréscimo de certeza que não será muito, alto porque têm conhecimento das dificuldades financeiras que a população angolana enfrenta”.
Por seu lado, Manuel de Carvalho considera que a escolha desta instituição deve-se ao facto de os encarregados confiarem mais na sua qualidade de ensino, ao contrário do que tem sido oferecido pelas entidades públicas: “Acho oportuno esclarecer que a enchente que se regista aqui não tem nada de especial porque praticamente é assim todos os anos.
Nós que preferimos esta escola viemos aqui dispostos a fazer tudo para conseguirmos uma vaga, porque a procura é maior que a oferta”, disse Manuel de Carvalho.
Enquanto esperava pela lista de chamada, Carvalho aguardava pacientemente junto à sua viatura.
Segundo ele, “a escola é católica e, segundo ouvi dizer, estabeleceu um acordo com a Universidade Católica de Angola que possibilitará aos melhores alunos terem uma bolsa de estudo para fazerem o ensino superior quer seja comparticipada como total”.

Candidatos VIP
Entre a multidão estava o crítico musical Jomo Fortunato que revelou ao nosso jornal que tem uma filha a frequentar a primeira classe naquela escola e que não sairia dali sem matricular o seu último filho na iniciação.
À semelhança dos demais encarregados de educação, Jomo Fortunato também apareceu no local no período da manhã para preencher a lista e dirigiu-se para o seu serviço.
Momentos depois o seu nome já tinha sido excluído: “Há um critério que está a ser utilizado aqui que é com base na ordem de chegada e de dormida, se podemos assim chamar, mas sou de opinião que deve ser usado o critério da idade. Por exemplo, as pessoas que fizeram cinco anos em Abril devem ter mais prioridade do que quem fez mais cedo”, argumentou o crítico musical.
Jomo Fortunato desconhecia, na altura, o critério utilizado pelas madres, mas assegura que o da idade seria ideal porque não acha justo que se exclua da lista as pessoas que não estavam no momento da recontagem pessoal.
Enquanto aguardavam o início das matrículas, a lista era recontada de três em três horas e os nomes dos indivíduos que não estavam presentes eram riscados, independentemente de terem pernoitado no local ou não.
“Há pouco tempo vi a lista e constatei que existem 335 candidatos para 45 lugares. Já ouvi falar de 70 e de 90 lugares, mas não existe nada de concreto porque não recebemos nenhum esclarecimento da direcção da direcção da escola”, frisou o crítico.
Jomo Fortunato é de opinião que as pessoas acorrem a essa escola por o ensino ser de elevada qualidade e de baixo custo: “Comparando com o que se paga aqui e noutros colégios, mesmo com o nível escolar subsequente à iniciação, constatamos que são valores que compensam.” Nota que, por exemplo, conseguiu pagar as propinas da filha durante todo o ano passado e ficou apenas orçado em cerca de 30.000 kwanzas.
O nosso interlocutor sublinhou que o volume de pessoas que se dirigiram à Escola de São José de Cluny deve servir para o Estado fazer uma reflexão sobre a qualidade do ensino de base e procurar melhorá-lo, tendo em conta que a fase da iniciação determina o desempenho da criança nos anos seguintes. (continua)

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