Os quatro jovens supostamente envolvidos no assassinato do juiz Miguel Gaspar Macumbi e do oficial da Polícia Nilton Janota, ocorrido em 2007, começaram a ser julgados esta quarta-feira, 10, na 6ª Secção da Vara de Crimes do Tribunal Provincial de Luanda.
A equipa de juízes, dirigida por Mariana Kalei, procedeu apenas à audição dos depoimentos dos acusados, nomeadamente Joaquim António Miguel, mais conhecido por “KK”, de 22 anos, Adilson Adelino Miguel, vulgo “Adi Galinha”, de 18 anos, Domingos Benjamim Canguanjo Pedro, também conhecido por “Miro de King”, de 22 anos e Adilson Mateus João, conhecido por “Sete Asas”, 19 anos. “Atendendo ao facto de serem 26 declarantes e quatro réus vamos, dar prioridade a estes últimos, mas se o tempo permitir procederemos a auscultação de mais dois declarantes e os demais serão ouvidos em próximas audiências”, explicou a juíza Mariana Kalei.
Ao ser interrogado em julgamento, o réu Joaquim Miguel revelou que antes de ser detido trabalhava na Cimangola como operador de máquinas e que já estivera detido durante três meses, em 2004, sob a acusação de crime de homicídio: “Soltaramme depois porque os investigadores viram que eu era inocente. O que aconteceu na realidade é que eu lutei na rua com alguns jovens, mas nenhum deles morreu”, explicou.
Questionado pela juíza Mariana Kalei se concordava com as declarações que constam dos autos, o réu recusou a sua participação nos crimes que lhe estavam a ser imputados, alegando que só assinou os autos para se livrar da tortura a que estava sujeito: “Não tenho nada a ver com o assassinato do juiz e do polícia, só aceitei a história que consta nos autos e assinei-os porque os investigadores estavam a torturar-nos muito e como sofro de dor no peito não tive outra opção”, revelou o jovem olhando friamente para a juíza que o interrogava.
Joaquim Miguel atestou, durante o interrogatório, que os agentes da polícia envolvidos na operação que resultou na detenção dos seus presumíveis comparsas, só os encontraram na sua residência, localizada no município de Viana, porque os réus Miro King e Adi Galinha, tinham-se deslocado àquele local um dia antes para lhe venderem roupa.
“Saía do trabalho quando os encontrei a consumirem álcool numa barraca que está defronte à minha casa, como fez-se tarde e estava a chover, acompanhei-os até à paragem e não havia táxi, regressamos e permiti que eles passassem a noite em minha casa”, rematou.
No início do seu interrogatório, Miro King procurou ser bastante curto e conciso ao responder às questões: “Fumo liamba e consumo álcool”, respondeu com ar de arrogância à pergunta da juíza. Reconheceu, em juízo, que fora também o autor dos disparos que resultaram na morte de um taxista em 2007, quando pretendia roubar 35 mil Kwanzas.
Ao ouvir a descrição da forma brutal como o taxista foi assassinado, um dos quatros juristas que compunham a mesa não resistiu e começou a lagrimar.
Nos autos lidos pelo jurista Manuel Bambi em representação do Ministério Público, constam que pesam ainda sobre os réus os crimes de roubos de telemóveis, assaltos à mão armada e homicídios. “Os arguidos são previamente conhecidos por fazerem parte de um grupo que normalmente convive e anda junto, praticando uma série de acções nada abonatórias à ordem e tranquilidade públicas”, lê-se nos autos.
Segundo apurou O PAÍS, a Direcção Nacional dos Serviços Prisionais transferiu os quatro jovens para as cadeias de Menongue, Malange e Benguela depois de ter registado a sua participação na rebelião desencadeada o ano passado na cadeia de Viana.
Sem avançar os nomes dos transferidos, as nossas fontes atestam que apenas o presumível líder do grupo, “Miro King”, permaneceu na cadeia de Viana e que alguns dias antes do julgamento, os indivíduos que se encontravam fora de Luanda, regressaram à capital e permanecerão enclausurados na enfermaria prisão da cadeia de São Paulo, enquanto decorrer o julgamento.
A morte do juiz
Nos autos consta que a morte do juiz Miguel Macumbi ocorreu por volta das 20 horas do dia 22 de Fevereiro de 2007, no mesmo local quando os indivíduos tentaram furtar a sua viatura de marca Toyota Land Cruiser.
“Os mesmos cidadãos aperceberam-se que o juiz saía de uma roulote, localizada nas imediações das bombas de combustível da segurança, em direcção à sua viatura que se encontrava estacionada”, contou Manuel Bambi, acrescentando de seguida que “os marginais munidos de uma arma do tipo espingarda de marca AKM apontaram-na contra a vítima e exigiram que entregasse as chaves da viatura”.
O juiz recusou-se a fazer a entrega das chaves jogando-as dentro de um charco de água que existia nas imediações e tentou fugir, numa direcção não identificada nos autos. “Sem fazer-se esperar o arguido Domingos Pedro, sempre acompanhado dos seus comparsas, efectuou vários disparos que não só atingiu a perna da vítima como também a viatura e meteram-se em fuga”.
Na esperança de conseguir ajuda dos moradores daquela zona, Miguel Macumbi arrastou-se até à porta de uma residência cujo número e nome do proprietário não consta dos autos. “A vítima foi socorrida até ao Hospital Américo Boavida e mais tarde transferido para a Clínica Sagrada Esperança onde acabou por sucumbir dois dias depois, em virtude de ter graves ferimentos causados pelos disparos”, frisou.
De acordo com os autos, antes de cometerem o crime, o mesmo grupo de marginais já tinha roubado três telemóveis e uma pasta de documentos não identificados que pertenciam a três pessoas próximas do juiz Miguel Macumbi, incluindo a sua esposa. “Nos seus interrogatórios os presumíveis assaltantes confirmaram a prática de certas acções (...)”, segundo o documento.
Aquando da sua apresentação à imprensa, questionado sobre que motivos o levaram a matar o juiz, Domingos Pedro disse que interpelaram uma viatura de marca Toyota Hiace e receberam o dinheiro que o motorista e o cobrador transportavam, dispararam vários tiros e correram em direcção à rua da Vaidade.
“A população vinha atrás de nós com objectos para nos bater e para não sermos seguidos tirei a pistola, fiz um tiro e continuamos a correr. Três dias depois, fomos detidos pela Polícia, foi aí que nos disseram que os tiros que efectuei atingiram um juiz que morreu no hospital”, relatou.
Acrescentando de seguida que “não fazíamos ideia que ele era juiz e quando fiz o tiro não deu para ver quem vinha no outro lado da estrada. Não foi nossa intenção matar o juiz e muito menos roubar a viatura, naquele momento o nosso medo era de que a população nos matasse”.
Fonte: O País
A equipa de juízes, dirigida por Mariana Kalei, procedeu apenas à audição dos depoimentos dos acusados, nomeadamente Joaquim António Miguel, mais conhecido por “KK”, de 22 anos, Adilson Adelino Miguel, vulgo “Adi Galinha”, de 18 anos, Domingos Benjamim Canguanjo Pedro, também conhecido por “Miro de King”, de 22 anos e Adilson Mateus João, conhecido por “Sete Asas”, 19 anos. “Atendendo ao facto de serem 26 declarantes e quatro réus vamos, dar prioridade a estes últimos, mas se o tempo permitir procederemos a auscultação de mais dois declarantes e os demais serão ouvidos em próximas audiências”, explicou a juíza Mariana Kalei.
Ao ser interrogado em julgamento, o réu Joaquim Miguel revelou que antes de ser detido trabalhava na Cimangola como operador de máquinas e que já estivera detido durante três meses, em 2004, sob a acusação de crime de homicídio: “Soltaramme depois porque os investigadores viram que eu era inocente. O que aconteceu na realidade é que eu lutei na rua com alguns jovens, mas nenhum deles morreu”, explicou.
Questionado pela juíza Mariana Kalei se concordava com as declarações que constam dos autos, o réu recusou a sua participação nos crimes que lhe estavam a ser imputados, alegando que só assinou os autos para se livrar da tortura a que estava sujeito: “Não tenho nada a ver com o assassinato do juiz e do polícia, só aceitei a história que consta nos autos e assinei-os porque os investigadores estavam a torturar-nos muito e como sofro de dor no peito não tive outra opção”, revelou o jovem olhando friamente para a juíza que o interrogava.
Joaquim Miguel atestou, durante o interrogatório, que os agentes da polícia envolvidos na operação que resultou na detenção dos seus presumíveis comparsas, só os encontraram na sua residência, localizada no município de Viana, porque os réus Miro King e Adi Galinha, tinham-se deslocado àquele local um dia antes para lhe venderem roupa.
“Saía do trabalho quando os encontrei a consumirem álcool numa barraca que está defronte à minha casa, como fez-se tarde e estava a chover, acompanhei-os até à paragem e não havia táxi, regressamos e permiti que eles passassem a noite em minha casa”, rematou.
No início do seu interrogatório, Miro King procurou ser bastante curto e conciso ao responder às questões: “Fumo liamba e consumo álcool”, respondeu com ar de arrogância à pergunta da juíza. Reconheceu, em juízo, que fora também o autor dos disparos que resultaram na morte de um taxista em 2007, quando pretendia roubar 35 mil Kwanzas.
Ao ouvir a descrição da forma brutal como o taxista foi assassinado, um dos quatros juristas que compunham a mesa não resistiu e começou a lagrimar.
Nos autos lidos pelo jurista Manuel Bambi em representação do Ministério Público, constam que pesam ainda sobre os réus os crimes de roubos de telemóveis, assaltos à mão armada e homicídios. “Os arguidos são previamente conhecidos por fazerem parte de um grupo que normalmente convive e anda junto, praticando uma série de acções nada abonatórias à ordem e tranquilidade públicas”, lê-se nos autos.
Segundo apurou O PAÍS, a Direcção Nacional dos Serviços Prisionais transferiu os quatro jovens para as cadeias de Menongue, Malange e Benguela depois de ter registado a sua participação na rebelião desencadeada o ano passado na cadeia de Viana.
Sem avançar os nomes dos transferidos, as nossas fontes atestam que apenas o presumível líder do grupo, “Miro King”, permaneceu na cadeia de Viana e que alguns dias antes do julgamento, os indivíduos que se encontravam fora de Luanda, regressaram à capital e permanecerão enclausurados na enfermaria prisão da cadeia de São Paulo, enquanto decorrer o julgamento.
A morte do juiz
Nos autos consta que a morte do juiz Miguel Macumbi ocorreu por volta das 20 horas do dia 22 de Fevereiro de 2007, no mesmo local quando os indivíduos tentaram furtar a sua viatura de marca Toyota Land Cruiser.
“Os mesmos cidadãos aperceberam-se que o juiz saía de uma roulote, localizada nas imediações das bombas de combustível da segurança, em direcção à sua viatura que se encontrava estacionada”, contou Manuel Bambi, acrescentando de seguida que “os marginais munidos de uma arma do tipo espingarda de marca AKM apontaram-na contra a vítima e exigiram que entregasse as chaves da viatura”.
O juiz recusou-se a fazer a entrega das chaves jogando-as dentro de um charco de água que existia nas imediações e tentou fugir, numa direcção não identificada nos autos. “Sem fazer-se esperar o arguido Domingos Pedro, sempre acompanhado dos seus comparsas, efectuou vários disparos que não só atingiu a perna da vítima como também a viatura e meteram-se em fuga”.
Na esperança de conseguir ajuda dos moradores daquela zona, Miguel Macumbi arrastou-se até à porta de uma residência cujo número e nome do proprietário não consta dos autos. “A vítima foi socorrida até ao Hospital Américo Boavida e mais tarde transferido para a Clínica Sagrada Esperança onde acabou por sucumbir dois dias depois, em virtude de ter graves ferimentos causados pelos disparos”, frisou.
De acordo com os autos, antes de cometerem o crime, o mesmo grupo de marginais já tinha roubado três telemóveis e uma pasta de documentos não identificados que pertenciam a três pessoas próximas do juiz Miguel Macumbi, incluindo a sua esposa. “Nos seus interrogatórios os presumíveis assaltantes confirmaram a prática de certas acções (...)”, segundo o documento.
Aquando da sua apresentação à imprensa, questionado sobre que motivos o levaram a matar o juiz, Domingos Pedro disse que interpelaram uma viatura de marca Toyota Hiace e receberam o dinheiro que o motorista e o cobrador transportavam, dispararam vários tiros e correram em direcção à rua da Vaidade.
“A população vinha atrás de nós com objectos para nos bater e para não sermos seguidos tirei a pistola, fiz um tiro e continuamos a correr. Três dias depois, fomos detidos pela Polícia, foi aí que nos disseram que os tiros que efectuei atingiram um juiz que morreu no hospital”, relatou.
Acrescentando de seguida que “não fazíamos ideia que ele era juiz e quando fiz o tiro não deu para ver quem vinha no outro lado da estrada. Não foi nossa intenção matar o juiz e muito menos roubar a viatura, naquele momento o nosso medo era de que a população nos matasse”.
Fonte: O País
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