Na passada terça-feira, 30 de Junho, por volta das 12h00, encontramos Margarida Ventura, 50 anos, com pequenas pedras nas mãos retiradas do meio de um entulho depositado num terreno de céu aberto, sua pertença, na zona da Camama, em Luanda.
O vasto terreno em que falamos com a senhora foi convertido em zona de depósito de lixo retirado das várias obras de construção civil da capital, descarregados por camiões basculantes, onde se aproveitam peças de madeira e de metal e pedras para posterior comercialização.
Quando chegámos, Margarida Ventura separava pedras do escolho que juntava em montes, separados uns dos outros por curtos espaços, à espera de potenciais clientes. Recolher pedras, madeiras, ferros, cobre e alumínio nos amontoados de entulho para comercializar é a forma que dezenas de mulheres e jovens desempregados encontraram para sustentarem as suas famílias.
Margarida Ventura é o retrato fiel de pessoas que em Luanda encontraram neste tipo de actividade o seu ganha-pão, tendo-se convertido já numa empresária de sucesso. Na sua área de jurisdição, na Camama a “sucateira”, como prefere que a chamem, não actua sozinha. Ela deu “emprego” a outros dez jovens que sustentam as suas famílias com o dinheiro arrecadado da venda destes materiais.“Comecei a desenvolver esta actividade em 2001, numa altura em que precisava de fazer alguma coisa para garantir a formação dos meus filhos e netos”, justificou a Sucateira.
Camionistas na jogada Para garantir o despejo de entulho em seu terreno, Margarida Ventura estabeleceu acordo com os motoristas de camiões basculantes de empresas de construção civil nacionais e estrangeiras. “O contrato com as construtoras não é pago porque eles também beneficiam ao deixarem de percorrer longas distâncias para deitarem o lixo das obras. Ambas as partes saem a ganhar”, disse.
A sucateira explica em pormenor a forma como se desenrola o negócio entre ela e os camionistas, advogando que dispensam comprar entulho e alugar um bulldozer visto, que eles se responsabilizam por tudo isso. A sucateira esclareceu ainda que quando a empreiteira decide retirar o equipamento do local, ela vê-se obrigada a desembolsar 120 dólares por hora para o aluguer de uma máquina de outra empresa.
Para além dos seus “funcionários”, o processo de recolha desses materiais é reforçado por vários grupos de crianças que se deslocam àquele local para brincar. Estes recolhem as peças e vendem-nas à proprietária do terreno ao preço de 300 Kwanzas.
“Somos nós quem estabelecemos os preços às crianças e aos jovens que vêm aqui vender ferro ou alumínio, pelo facto de os nossos potenciais compradores não terem um preço fixo”. Ferro, o mais procurado do lixo comercializado naquele recinto, o ferro é o que mais rende ao bolso de Margarida Ventura, seguindo-se o cobre e o alumínio. Desde 2005, o negócio passou a ter outros contornos, com a entrada em cena de cidadãos indianos que começaram a comprar toneladas de sucata para enviarem para o exterior.
Depois de se familiarizarem, segundo a nossa interlocutora, os compradores deixavam no local mais de dez contentores de 20 pés, adiantavam o pagamento de cinco e tão logo recebessem a informação que todos estavam cheios, faziam a liquidação dos restantes.
“No princípio vendíamos o contentor de 20 pés a 1.500 dólares, mas depois apercebemo-nos que estávamos a comercializá-los a um preço inferior ao praticado pelos nossos concorrentes que já cobravam mais de 2.000 dólares cada. A partir daí aumentamos o valor para 3.500 dólares”, disse. Acrescentando de seguida que “o dinheiro adiantado serve para pagar os funcionários e aluguer do equipamento para cortar os ferros que não cabem no contentor”.
O vasto terreno em que falamos com a senhora foi convertido em zona de depósito de lixo retirado das várias obras de construção civil da capital, descarregados por camiões basculantes, onde se aproveitam peças de madeira e de metal e pedras para posterior comercialização.
Quando chegámos, Margarida Ventura separava pedras do escolho que juntava em montes, separados uns dos outros por curtos espaços, à espera de potenciais clientes. Recolher pedras, madeiras, ferros, cobre e alumínio nos amontoados de entulho para comercializar é a forma que dezenas de mulheres e jovens desempregados encontraram para sustentarem as suas famílias.
Margarida Ventura é o retrato fiel de pessoas que em Luanda encontraram neste tipo de actividade o seu ganha-pão, tendo-se convertido já numa empresária de sucesso. Na sua área de jurisdição, na Camama a “sucateira”, como prefere que a chamem, não actua sozinha. Ela deu “emprego” a outros dez jovens que sustentam as suas famílias com o dinheiro arrecadado da venda destes materiais.“Comecei a desenvolver esta actividade em 2001, numa altura em que precisava de fazer alguma coisa para garantir a formação dos meus filhos e netos”, justificou a Sucateira.
Camionistas na jogada Para garantir o despejo de entulho em seu terreno, Margarida Ventura estabeleceu acordo com os motoristas de camiões basculantes de empresas de construção civil nacionais e estrangeiras. “O contrato com as construtoras não é pago porque eles também beneficiam ao deixarem de percorrer longas distâncias para deitarem o lixo das obras. Ambas as partes saem a ganhar”, disse.
A sucateira explica em pormenor a forma como se desenrola o negócio entre ela e os camionistas, advogando que dispensam comprar entulho e alugar um bulldozer visto, que eles se responsabilizam por tudo isso. A sucateira esclareceu ainda que quando a empreiteira decide retirar o equipamento do local, ela vê-se obrigada a desembolsar 120 dólares por hora para o aluguer de uma máquina de outra empresa.
Para além dos seus “funcionários”, o processo de recolha desses materiais é reforçado por vários grupos de crianças que se deslocam àquele local para brincar. Estes recolhem as peças e vendem-nas à proprietária do terreno ao preço de 300 Kwanzas.
“Somos nós quem estabelecemos os preços às crianças e aos jovens que vêm aqui vender ferro ou alumínio, pelo facto de os nossos potenciais compradores não terem um preço fixo”. Ferro, o mais procurado do lixo comercializado naquele recinto, o ferro é o que mais rende ao bolso de Margarida Ventura, seguindo-se o cobre e o alumínio. Desde 2005, o negócio passou a ter outros contornos, com a entrada em cena de cidadãos indianos que começaram a comprar toneladas de sucata para enviarem para o exterior.
Depois de se familiarizarem, segundo a nossa interlocutora, os compradores deixavam no local mais de dez contentores de 20 pés, adiantavam o pagamento de cinco e tão logo recebessem a informação que todos estavam cheios, faziam a liquidação dos restantes.
“No princípio vendíamos o contentor de 20 pés a 1.500 dólares, mas depois apercebemo-nos que estávamos a comercializá-los a um preço inferior ao praticado pelos nossos concorrentes que já cobravam mais de 2.000 dólares cada. A partir daí aumentamos o valor para 3.500 dólares”, disse. Acrescentando de seguida que “o dinheiro adiantado serve para pagar os funcionários e aluguer do equipamento para cortar os ferros que não cabem no contentor”.
2. Crise financeira aperta
A crise financeira em curso está a dificultar o desenvolvimento do negócio, visto que os compradores de sucata ausentaram-se do mercado. Margarida Ventura disse acreditar que quando a crise passar os indianos e os seus parceiros continuarão com o negócio, por isso está a criar um stock capaz de satisfazer a procura.
Antes da crise, a sucateira tinha fechado um contrato verbal com alguns compradores indianos que se resumia no enchimento de 50 contentores de 20 toneladas e em troca recebia dois camiões basculantes com guincho.
“Aposto que com a venda dos 50 contentores, eles tirariam a triplicar os 70.000 ou 80.000 dólares que gastariam com a compra destes equipamentos. E eu teria a felicidade de deixar de alugar estes meios para recolher as peças dos entulhos”. Para facilitar o controlo das mercadorias, a comerciante utiliza uma balança de grande porte adequada para o efeito.
A fama da nossa interlocutora espalhou-se pelo bairro e actualmente os jovens desempregados procuram recolher ferros e alumínio na zona para venderem a ela. No buraco da Camama, como também é designado o local, Margarida Ventura retira ainda uma enorme quantidade de madeira diversa, entre contraplacados, ripas, paus, estrados, entre outros, que são comercializados aos marceneiros e carpinteiros.
“O preço varia em função do tipo e da quantidade da madeira que o cliente vai levar; um carro de mão cheio pode custar de 500 a 1.500 Kwanzas, mas quando as pessoas dizem que não têm dinheiro, acabo por oferecer”. Instada a exemplificar, Margarida Ventura disse que do buraco da Camama saem madeiras que são utilizadas para fazer cadeirões, quadros, bancadas e gaiolas.
No negócio da madeira, a sucateira diz que consegue tirar maior proveito da parceria que estabeleceu com o seu sobrinho marceneiro de profissão que utiliza este material para fazer gaiolas de pássaros, comercializadas a 30.000 Kwanzas cada. Em troca das madeiras, o jovem faz quatro gaiolas e depois de as vender entrega o dinheiro de uma delas à sua tia. “Vi que ele tem jeito para a coisa e achei que esta seria uma forma de ajudá-lo. Desta forma, consigo também dinheiro para pagar os meus funcionários e manter o local intacto dos invasores”.
3. Venda de pedra em queda
O trabalho desenvolvido para manter as pedras à vista dos clientes é o mais fastidioso e moroso, estando entre os menos rentáveis.
Margarida Ventura explicou que, normalmente, os camionistas depositam os entulhos próximo ao buraco, e para evitar que as pedras sejam atiradas pelo bulldozer, os seus funcionários recolhem-nas com a ajuda de um carro de mão e transportam para um lugar seguro, onde de seguida é partido. “Depois de partidas, os meus dois filhos e o sobrinho ajudam-me a arrumar as pedras num local visível onde são comercializados”.
O preço do monte de pedra varia em função da procura e da composição da mesma. As compostas de betão são as mais caras, por oferecerem maior resistência e durabilidade. “Inicialmente tinha estabelecido acordo com os jovens. Eles partem, arrumam e vendem os montes de pedras ao preço que vai dos dez a 12mil kwanzas cada, ficando o dinheiro de dois montes com eles como pagamento”, explicou.
Como às vezes não há clientes, os vendedores optam por receber três mil Kwanzas por monte e dois mil Kwanzas pela arrumação. Margarida Ventura revelou, por outro lado, que o comércio de pedras baixou de forma drástica nos últimos tempos devido às constantes demolições que têm sido desencadeadas pelo Governo Provincial de Luanda (GPL). A líder da venda de lixo extraído dos entulhos atesta que está há dois meses sem vender nenhum monte de pedra.
O trabalho desenvolvido para manter as pedras à vista dos clientes é o mais fastidioso e moroso, estando entre os menos rentáveis.
Margarida Ventura explicou que, normalmente, os camionistas depositam os entulhos próximo ao buraco, e para evitar que as pedras sejam atiradas pelo bulldozer, os seus funcionários recolhem-nas com a ajuda de um carro de mão e transportam para um lugar seguro, onde de seguida é partido. “Depois de partidas, os meus dois filhos e o sobrinho ajudam-me a arrumar as pedras num local visível onde são comercializados”.
O preço do monte de pedra varia em função da procura e da composição da mesma. As compostas de betão são as mais caras, por oferecerem maior resistência e durabilidade. “Inicialmente tinha estabelecido acordo com os jovens. Eles partem, arrumam e vendem os montes de pedras ao preço que vai dos dez a 12mil kwanzas cada, ficando o dinheiro de dois montes com eles como pagamento”, explicou.
Como às vezes não há clientes, os vendedores optam por receber três mil Kwanzas por monte e dois mil Kwanzas pela arrumação. Margarida Ventura revelou, por outro lado, que o comércio de pedras baixou de forma drástica nos últimos tempos devido às constantes demolições que têm sido desencadeadas pelo Governo Provincial de Luanda (GPL). A líder da venda de lixo extraído dos entulhos atesta que está há dois meses sem vender nenhum monte de pedra.
4. Viana, outra zona de exploração
Domingas Mendonça, 36 anos, moradora no Quilómetro Nove, em Viana, diz que há um mês que sustenta a sua família com o dinheiro proveniente da venda de lixo retirado dos entulhos. Contrariamente às suas colegas que exercem essa actividade no Benfica e na Camama, em Viana, as comerciantes estabelecem o preço em função da quantidade solicitada pelo cliente. “Vendemos o monte a 2mil kwanzas, mas se o cliente reclamar pelo preço baixamos até 1.500 kwanzas”, explicou.Actualmente a procura de pedras naquela zona tornou-se maior que a oferta, pelo facto de os camiões terem suspenso o depósito de entulho, o que tem provocado a escassez do material. Para conseguirem pedras, as vendedoras contam com a ajuda de crianças dos 10 aos 16, que sobem aos entulhos de três metros de altura à procura de negócio.
No local, encontramos o adolescente Mendes Sabalo, 12 anos, estudante da terceira classe, que se encontrava em cima de um monte de entulho à procura de pedras, enquanto os seus companheiros, cujas idades não diferem muito, faziam o mesmo trabalho. “Faço este trabalho todos os dias antes de ir à escola, porque daqui consigo tirar o dinheiro para ajudar os meus pais a comprarem os materiais escolares e roupa. As senhoras pagam-me 400 kwanzas por cada pedra que descubro”.Depois de localizadas as pedras, as crianças tratam de retirar toda a areia que estiver ao seu redor e empurram-nas para baixo. Daí, os passos a seguir são marcados pelas comerciantes que as partem com a ajuda de uma marreta que pesa mais de oito quilogramas.
5. Talatona, pobres fazem a diferença
Em Talatona, deparamo-nos com a senhora Caro Tchimica, 39 anos, a partir uma pedra de mais de 80 centímetros. No local há mais de um mês, ela explica que foi parar ai de forma casual.
“A minha casa é aqui próximo e sempre que passava por esta zona via as minhas vizinhas a juntarem as pedras para venderem, e assim decidi juntar-me a elas e cá estou até hoje”, contou.
Segundo ela “às vezes ficamos três dias sem vender, mas como aqui há muita procura, temos sempre a certeza de que dias melhores chegarão”. O ferimento no dedo indicador causado por uma marreta de dez quilogramas não inibia a nossa interlocutora que, de forma destemida, erguia-a para o alto e de seguida arremessava para a pedra enorme.
“Apesar de ter esta ferida no dedo, não pretendo parar de fazer isto porque é daqui que sai o sustento para a minha família. Nos primeiros dias, como a dor era muita, não tive outra hipótese senão ficar em casa a repousar sob orientações médicas mas voltei a ter dificuldades financeiras”, explicou.
Buraco de conflitos
Um casal que diz ser o proprietário do terreno que circunscreve o buraco da Camama tem estado a travar uma dura batalha com a Administração Municipal do Kilamba Kiaxi que pretende dar uma outra finalidade ao local.Margarida Ventura contou que antes de ocupar o terreno, em 2001, deslocou-se à Administração Comunal da Camana onde, sob orientação do antigo administrador, foi elucidada sobre os passos que deveria dar para legalizar o espaço.
Após a legalização do terreno, o casal teve de se desdobrar para conter as invasões. Enquanto o senhor Ventura contactava algumas empresas de construção civil para depositarem entulho no local (para taparem os buracos), Margarida passava todo o dia a tomar conta. “O meu esposo foi até a Elisal e a direcção da empresa informou-o que naquele local só poderiam meter pedras e areia para acalcar o terreno”, contou.
Depois de legalizado o terreno no Governo provincial e entulharem uma parte dele, o casal voltou a entrar em campo, mas desta vez para estabelecer parceria com algumas instituições do Estado. “Conseguimos estabelecer parceria com a Sonangol Distribuidora que ficou de vir montar aqui uma bomba de combustível e com o Ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, que também tem um projecto para esta zona”.
Margarida Ventura desabafou ainda que o antigo governador de Luanda, Job Capapinha, levou vários empresários àquele local, propondo a sua venda.
Sem comentários:
Enviar um comentário