Nas residências em viviam as vítimas, o clima de luto ainda está bem patente. Próximo ao local onde os oito jovens foram obrigados a deitar antes de serem baleados ainda se encontra uma parede cheia de buracos causados pelas balas que perfuraram os seus corpos.
De acordo com os moradores, nem a pintura feita nas paredes da residência onde os jovens estavam em ambiente festivo antes do infortúnio consegue apagar a tristeza em que se encontram até hoje. A síndrome do medo que se apossou da população é tanta que ninguém aceita permanecer até altas horas da noite naquele local, com medo de voltarem a ser vítimas de “assassínios misteriosos”.
Ao se aperceber da nossa presença em sua casa, Madalena Miguel, mãe do malogrado Fábio Caricoco, 21 anos, não conseguiu conter a dor que se apossou dela e indicou-nos o seu filho Leandro Caricoco para falar a nossa reportagem. “Desde que o meu filho morreu eu não consigo dormir; posso ter sono, mas quando vou deitar na cama só fico a pensar no meu filho”, disparou.
Leandro Caricoco recordou que no momento em que aconteceu o massacre, por volta das 19 horas de quarta-feira 23 de Julho de 2008, encontrava-se em casa a se preparar para uma prova e ao ouvir os disparos largou os cadernos para refugiar-se no quarto de uma tia. Na altura em que tudo aconteceu, os dois irmãos encontravam-se a fazer o último ano do curso médio de Ciências Jurídicas e Económicas no Colégio Duvero, no qual eram colegas de turma.
“Não sabemos explicar o que esteve na base daquele acidente. A única coisa que sei é que os disparos foram tantos que ninguém conseguiu sair para acudi-los”, frisou, acrescentando de seguida que uma das vítimas chegou a relatar antes de perecer que foram os polícias da nona esquadra que praticaram tais actos, citando apenas os nomes dos agentes Júlio e Micha.
O nosso interlocutor relatou que o malogrado Jhonson Van-Dúnem mencionou antes de morrer o nome destes dois agentes porque eram os únicos que não tinham os rostos cobertos com máscaras e que frequentavam aquele local onde trabalhavam à paisana. Depois do infortúnio, desapareceram daquele município.
Bernardo João Manuel, pai do jovem Fernando Manuel, outra vítima, contou que foi intimado a comparecer na Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) 15 dias depois do incidente e que de lá para cá tomou apenas conhecimento, através dos autos, que os supostos assassinos encontram-se em liberdade.
Por outro lado, disse que tomou conhecimento através da população que dois dos agentes que estiveram envolvidos no assassinato residiam naquele município, mas que após o “massacre” desapareceram sem deixar rastro.
“Os dois indivíduos que a população diz conhecer frequentavam este município só que nós não conhecemos em que zona de concreto é que eles viviam”. Até a data da sua morte, o jovem Fernando Manuel frequentava o ensino médio num colégio localizado na zona do Benfica e não deixou mulher nem filho.
Testemunhas foram notificadas
Felismina Pedro, mãe do jovem Elias Pedro, de 21 anos, revelou que algumas testemunhas oculares já receberam a notificação para comparecerem em Tribunal como declarantes. “A morte do meu filho deixou a família abalada e até agora ainda não consegui recuperar desta perda. Não consigo nem ir fazer a vida. Ele deixou uma mulher e uma filha que está agora com dois anos”, explica.
Devido o estado emocional em que se encontra a dona Felismina, os familiares retiraram todas as imagens do jovem que se encontrava pela casa e atribuíram ao seu irmão a responsabilidade de acompanhar o caso.
“A minha neta quando sai a rua, qualquer pessoa que ela vê trata logo de papá porque esta ansiosa em conhecer quem é realmente o seu pai”. Ao transportarem para o local onde decorria a entrevista o retrato do jovem, instalou-se um clima de óbito em casa de Felismina Pedro que chorava em companhia da sua irmã.
A entrevista prosseguiu com a nossa interlocutora a manifestar-se bastante esperançosa que o julgamento será realizado ainda este mês, conforme anunciaram as autoridades, e que “será digno como a Lei vigente no nosso país, porque cá se faz cá se paga”.
A mãe de Elias Pedro referiu que não meteria a mão no fogo pelo seu filho por não conhecer concretamente os caminhos por onde ele andava, mas que se as autoridades policiais consideravam-no como sendo delinquente deveriam levá-los à cadeia e depois julga-lo de forma justa.
“Eu não vou pôr a minha mão do fogo dizendo que o meu filho não era delinquente, mas tenho a minha mente tranquila que não era, e se as autoridades sabiam o contrário deviam levá-lo as barras da justiça e não matar-lhe a rajada conforme fizeram”.
A nossa interlocutora descreveu com bastante tristeza os locais onde o seu filho foi baleado, dizendo que “para matar o ser humano um tiro é suficiente. No meu filho, por exemplo, partiram-lhe os dois membros superiores e inferiores, deram-lhe um tiro na barriga e outro na cabeça, onde a bala acabou por ficar encravada”.
O Tribuna da Kianda tentou contactar as famílias de todos os cidadãos que morreram no “massacre da Frescura”, mas não foi possível porque alguns deles não se encontravam no local, ao passo que outros mudaram de residência.
Pais seguem o filho
A morte do jovem Jhonson Van-Dúnem, 22 anos, na zona Frescura, foi o ponto de partida para outros desaparecimentos físicos no seio daquela família que vive no meio do município do Sambizanga.
Segundo Cristina Van-Dúnem, tia de Jhonson, quatro meses após a morte deste jovem, a sua mãe Antónia Joaquim Van-Dúnem, 47 anos, não resistiu a perda e acabou por morrer com um ataque cardíaco.
Por ter sido uma das pessoas que acompanhou de perto a morte dos jovens e solicitou a ajuda dos vizinhos logo após os disparos, mesmo sem saber que naquele meio estava o seu filho, Antónia Van-Dúnem foi intimada na altura da constituição do processo a prestar declarações.
“Depois de ouvir os tiros ela saiu para ir ver o que se passava e ao ver os cadáveres deitados no chão começou a gritar pedindo socorro. Quando eu saí para ver o que se passava encontrei-a a gritar mesmo sem saber que o seu filho estava naquele meio”, explicou.
Contrariamente aos demais jovens que morreram no local dos disparos, Jhonsom morreu por volta das 23 horas no hospital. A tia lembrou que durante o tempo que esteve em vida, a sua irmã procurou acompanhar de perto as investigações policiais e ia periodicamente a esquadra para se inteirar dos processos de modos que o mesmo não caísse no esquecimento.
Cristina Van-Dúnem contou que o seu ente querido deixou duas mulheres, das quais uma tinha uma filha de dois anos e a outra estava concebida de seis meses, dando à luz a um rapaz. “Ele fez 22 anos seis dias antes de ser assassinado e estava a preparar-se para fazer o pedido das suas duas mulheres”, explicou.
Jhonsom Van-Dúnem nasceu no Sambizanga, mas morava com a sua mãe no município de Cacuaco, onde trabalhava numa indústria pesqueira. “Naquele dia eles vieram simplesmente visitar os seus parentes que moram aqui e pretendiam regressar no mesmo dia”, explicou Cristina Van-Dúnem, apontando para a avó do malogrado que tinha sido uma das beneficiadas da visita.
Como o azar não vem só, o dia 31 de Junho ficou registado no calendário desta família com a morte do pai de Jhonsom, Simão André, 54 anos, que, segundo a nossa interlocutora, não conseguiu resistir a perda do filho e da mulher e faleceu também de ataque cardíaco.
Para além da dor causada pela perda dos seus ente-queridos, Cristina Van-Dúnem contou que neste momento está a enfrentar inúmeras dificuldades em ajudar as mulheres e as duas crianças que ficaram órfãs de pai devido este infausto acidente.
“Aproveito para pedir as autoridades que nos ajudem não só a resolverem esse caso, como também a criarmos essas crianças, tendo em conta que as mesmas não têm culpa de o pai ter sido assassinado por presumíveis agentes da Polícia Nacional”.
Contactado pelo Tribuna da Kianda, o porta-voz do comando provincial de Luanda, Nestor Gobel, recusou-se a tecer qualquer comentário sobre o assunto alegando que deveríamos enviar antecipadamente uma carta a sua instituição solicitando informações acerca do assunto.
De acordo com os moradores, nem a pintura feita nas paredes da residência onde os jovens estavam em ambiente festivo antes do infortúnio consegue apagar a tristeza em que se encontram até hoje. A síndrome do medo que se apossou da população é tanta que ninguém aceita permanecer até altas horas da noite naquele local, com medo de voltarem a ser vítimas de “assassínios misteriosos”.
Ao se aperceber da nossa presença em sua casa, Madalena Miguel, mãe do malogrado Fábio Caricoco, 21 anos, não conseguiu conter a dor que se apossou dela e indicou-nos o seu filho Leandro Caricoco para falar a nossa reportagem. “Desde que o meu filho morreu eu não consigo dormir; posso ter sono, mas quando vou deitar na cama só fico a pensar no meu filho”, disparou.
Leandro Caricoco recordou que no momento em que aconteceu o massacre, por volta das 19 horas de quarta-feira 23 de Julho de 2008, encontrava-se em casa a se preparar para uma prova e ao ouvir os disparos largou os cadernos para refugiar-se no quarto de uma tia. Na altura em que tudo aconteceu, os dois irmãos encontravam-se a fazer o último ano do curso médio de Ciências Jurídicas e Económicas no Colégio Duvero, no qual eram colegas de turma.
“Não sabemos explicar o que esteve na base daquele acidente. A única coisa que sei é que os disparos foram tantos que ninguém conseguiu sair para acudi-los”, frisou, acrescentando de seguida que uma das vítimas chegou a relatar antes de perecer que foram os polícias da nona esquadra que praticaram tais actos, citando apenas os nomes dos agentes Júlio e Micha.
O nosso interlocutor relatou que o malogrado Jhonson Van-Dúnem mencionou antes de morrer o nome destes dois agentes porque eram os únicos que não tinham os rostos cobertos com máscaras e que frequentavam aquele local onde trabalhavam à paisana. Depois do infortúnio, desapareceram daquele município.
Bernardo João Manuel, pai do jovem Fernando Manuel, outra vítima, contou que foi intimado a comparecer na Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) 15 dias depois do incidente e que de lá para cá tomou apenas conhecimento, através dos autos, que os supostos assassinos encontram-se em liberdade.
Por outro lado, disse que tomou conhecimento através da população que dois dos agentes que estiveram envolvidos no assassinato residiam naquele município, mas que após o “massacre” desapareceram sem deixar rastro.
“Os dois indivíduos que a população diz conhecer frequentavam este município só que nós não conhecemos em que zona de concreto é que eles viviam”. Até a data da sua morte, o jovem Fernando Manuel frequentava o ensino médio num colégio localizado na zona do Benfica e não deixou mulher nem filho.
Testemunhas foram notificadas
Felismina Pedro, mãe do jovem Elias Pedro, de 21 anos, revelou que algumas testemunhas oculares já receberam a notificação para comparecerem em Tribunal como declarantes. “A morte do meu filho deixou a família abalada e até agora ainda não consegui recuperar desta perda. Não consigo nem ir fazer a vida. Ele deixou uma mulher e uma filha que está agora com dois anos”, explica.
Devido o estado emocional em que se encontra a dona Felismina, os familiares retiraram todas as imagens do jovem que se encontrava pela casa e atribuíram ao seu irmão a responsabilidade de acompanhar o caso.
“A minha neta quando sai a rua, qualquer pessoa que ela vê trata logo de papá porque esta ansiosa em conhecer quem é realmente o seu pai”. Ao transportarem para o local onde decorria a entrevista o retrato do jovem, instalou-se um clima de óbito em casa de Felismina Pedro que chorava em companhia da sua irmã.
A entrevista prosseguiu com a nossa interlocutora a manifestar-se bastante esperançosa que o julgamento será realizado ainda este mês, conforme anunciaram as autoridades, e que “será digno como a Lei vigente no nosso país, porque cá se faz cá se paga”.
A mãe de Elias Pedro referiu que não meteria a mão no fogo pelo seu filho por não conhecer concretamente os caminhos por onde ele andava, mas que se as autoridades policiais consideravam-no como sendo delinquente deveriam levá-los à cadeia e depois julga-lo de forma justa.
“Eu não vou pôr a minha mão do fogo dizendo que o meu filho não era delinquente, mas tenho a minha mente tranquila que não era, e se as autoridades sabiam o contrário deviam levá-lo as barras da justiça e não matar-lhe a rajada conforme fizeram”.
A nossa interlocutora descreveu com bastante tristeza os locais onde o seu filho foi baleado, dizendo que “para matar o ser humano um tiro é suficiente. No meu filho, por exemplo, partiram-lhe os dois membros superiores e inferiores, deram-lhe um tiro na barriga e outro na cabeça, onde a bala acabou por ficar encravada”.
O Tribuna da Kianda tentou contactar as famílias de todos os cidadãos que morreram no “massacre da Frescura”, mas não foi possível porque alguns deles não se encontravam no local, ao passo que outros mudaram de residência.
Pais seguem o filho
A morte do jovem Jhonson Van-Dúnem, 22 anos, na zona Frescura, foi o ponto de partida para outros desaparecimentos físicos no seio daquela família que vive no meio do município do Sambizanga.
Segundo Cristina Van-Dúnem, tia de Jhonson, quatro meses após a morte deste jovem, a sua mãe Antónia Joaquim Van-Dúnem, 47 anos, não resistiu a perda e acabou por morrer com um ataque cardíaco.
Por ter sido uma das pessoas que acompanhou de perto a morte dos jovens e solicitou a ajuda dos vizinhos logo após os disparos, mesmo sem saber que naquele meio estava o seu filho, Antónia Van-Dúnem foi intimada na altura da constituição do processo a prestar declarações.
“Depois de ouvir os tiros ela saiu para ir ver o que se passava e ao ver os cadáveres deitados no chão começou a gritar pedindo socorro. Quando eu saí para ver o que se passava encontrei-a a gritar mesmo sem saber que o seu filho estava naquele meio”, explicou.
Contrariamente aos demais jovens que morreram no local dos disparos, Jhonsom morreu por volta das 23 horas no hospital. A tia lembrou que durante o tempo que esteve em vida, a sua irmã procurou acompanhar de perto as investigações policiais e ia periodicamente a esquadra para se inteirar dos processos de modos que o mesmo não caísse no esquecimento.
Cristina Van-Dúnem contou que o seu ente querido deixou duas mulheres, das quais uma tinha uma filha de dois anos e a outra estava concebida de seis meses, dando à luz a um rapaz. “Ele fez 22 anos seis dias antes de ser assassinado e estava a preparar-se para fazer o pedido das suas duas mulheres”, explicou.
Jhonsom Van-Dúnem nasceu no Sambizanga, mas morava com a sua mãe no município de Cacuaco, onde trabalhava numa indústria pesqueira. “Naquele dia eles vieram simplesmente visitar os seus parentes que moram aqui e pretendiam regressar no mesmo dia”, explicou Cristina Van-Dúnem, apontando para a avó do malogrado que tinha sido uma das beneficiadas da visita.
Como o azar não vem só, o dia 31 de Junho ficou registado no calendário desta família com a morte do pai de Jhonsom, Simão André, 54 anos, que, segundo a nossa interlocutora, não conseguiu resistir a perda do filho e da mulher e faleceu também de ataque cardíaco.
Para além da dor causada pela perda dos seus ente-queridos, Cristina Van-Dúnem contou que neste momento está a enfrentar inúmeras dificuldades em ajudar as mulheres e as duas crianças que ficaram órfãs de pai devido este infausto acidente.
“Aproveito para pedir as autoridades que nos ajudem não só a resolverem esse caso, como também a criarmos essas crianças, tendo em conta que as mesmas não têm culpa de o pai ter sido assassinado por presumíveis agentes da Polícia Nacional”.
Contactado pelo Tribuna da Kianda, o porta-voz do comando provincial de Luanda, Nestor Gobel, recusou-se a tecer qualquer comentário sobre o assunto alegando que deveríamos enviar antecipadamente uma carta a sua instituição solicitando informações acerca do assunto.
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